UOL Esporte - Pan 2007
UOL BUSCA

28/07/2007 - 22h38

Hobie Cat acaba em desclassificação, vaia e crítica da Isaf ao Brasil

Bruno Doro
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

A desclassificação de Bernardo Arndt e Bruno Oliveira causou tantos problemas na competição de vela do Pan-Americano que até a Isaf (Federação Internacional de Vela), órgão que coordena a modalidade, reclamou do desfecho do caso.

Sem os brasileiros, os guatemaltecos Juan Ignácio Maegli e Cristina Guirola ficaram com o ouro, os venezuelanos Gonzalo Cendra e Yamil Saba com a prata e os porto-riquenhos Enrique Figueroa e Carla Alegria com o bronze. A medal race, porém, não foi disputada, porque os brasileiros eliminados protestaram todos seus concorrentes antes da regata.

A vice-presidente da entidade, a venezuelana Teresa Lara, se irritou principalmente com os torcedores, que vaiaram os guatemaltecos no pódio e durante o hino. "Chamou a atenção a falta de respeito a um atleta, a falta de respeito a três paises amigos e que fazem parte da Isaf. O povo brasileiro precisa aprender que todo atleta ganhador merece respeito ao seu esporte, ao seu hino e a sua bandeira".

O brasileiro foi acusado de usar uma peça ilegal em seu veleiro. O protesto, porém, só foi anunciado depois que Arndt e Oliveira já tinham garantido a medalha de ouro. Ele protestou, sem sucesso, contra os medidores, que aprovaram seu barco em uma inspeção antes da competição.

Na defensiva, os medalhistas justificaram o protesto que tirou Arndt da disputa, feito por cinco competidores. "Essa classe se caracteriza por ser de monotipos (barcos iguais), onde se enfatiza a velocidade do velejador, não o rendimento do equipamento. Quando recebo o barco, não mudo uma solda, uma adriça, não mudo nada. Uso o barco exatamente como ele sai da fábrica", afirma Figueroa, bronze e campeão mundial da classe.

Ouro, o guatemalteco Maegli disse que o bom rendimento do brasileiro foi causado pela mudança. "Todos nós nos demos conta que a embarcação não cumpria com a regra. Ele tinha uma vantagem sobre todos os outros. Com a peça trocada, ele consegue usar a vela três ou quatro polegadas mais para o alto. Com isso, ele ganha uma gama de ajustes muito maior".

Segundo Figueroa, a irregularidade de Arndt aconteceu no topo do mastro. Dois tipos de mastros eram autorizados na competição, mas apenas com peças originais de cada um deles. Arndt estaria usando um dos mastros, com o topo do outro. O equipamento do brasileiro, porém, foi aprovado na medição, e reprovado depois.

A reclamação de Arndt é que faltou espírito desportivo aos adversários. "Eu treinei por uma semana inteira com eles e ninguém reclamou. E era uma peça clara, aparente. Mas começo a andar na frente, garanto a medalha e me protestam?"

O restante do time brasileiro fez coro. "Como velejador de Star (o Pan foi sua última competição na Laser), entendo que depois da medição, quando você mostra todo o equipamento e ele é homologado, não é mais passível de discussão", disse Robert Scheidt, prata na Laser.

"Acho que se um caso assim acontecesse na flotilha de prancha, o competidor que se sentisse prejudicado iria falar diretamente com quem poderia estar irregular. E eles não fizeram isso", opinou Ricardo Winicki, o Bimba, ouro na prancha à vela.

"O mais triste é que ele estava muito empolgado com o Hobie Cat. Não foi nem mesmo para Cascais para ficar treinando", conta Alexandre Paradeda, ouro na Snipe, que velejava ao lado de Arndt na 470, parceria que terminou no começo do ano, antes do Mundial de Cascais, que classificou para as Olimpíadas de Pequim.

A vice-presidente da Isaf, porém, aprovou a decisão final. "Todos os competidores precisam entender que os jurados internacionais são pessoas conhecedoras das regras, honestas e que trabalham pelo esporte. O protesto foi totalmente honesto e totalmente bem resolvido pelos jurados. Portanto, os três medalhistas ganharam em uma competição honesta e aberta e são merecedores das medalhas", afirmou Teresa Lara.