"Hoje ele já tem condições de ser profissional. Já tem boxe e cabeça para isso, mas vou aguentá-lo mais um pouco, até a Olimpíada." Assim o treinador-empresário Luiz Carlos Dórea define o futuro próximo de seu pupilo, o boxeador dourado Pedro Lima.
Em êxtase com o triunfo, o pugilista só sabe agradecer a todos da equipe e soltar gritos de alegria - no pódio puxou o coro de "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" e foi seguido pela platéia do Riocentro. Lançou socos no ar para as câmeras e gritava "coração valente" aos microfones.
"Quem maneja minha carreira é o Dórea. Ele decide o que vou fazer", se esquiva o pugilista. Na sua academia Champion, no bairro soteropolitano Cidade Nova, Dórea é treinador de dezenas de jovens, mas também empresaria nove profissionais.
Sua trajetória na fama começou com Acelino Freitas, o Popó, que depois quebrou contrato com ele e atualmente move um processo na Justiça contra Dórea. "Isso é passado. Lembro só dos momentos bons. O lado negativo a gente esquece", afirma, falando do hoje superior hierárquico - Popó é chefe da delegação no Pan e secretário de Esportes de Salvador.
Segundo Dórea e Lima, não há um contrato entre eles. "Somos uma família. Quem come em casa vira parente", define o treinador. "Dórea me ajudou, me deu dinheiro para remédio quando apareci na academia dele", conta o boxeador de 23 anos, que antes vendia bala e chocolate nas ruas e sempre arrumava briga.
Mas Popó, o ex-pupilo de Dórea, não deixa esquecer que relações tão entranhadas também se quebram. Popó foi prata no Pan de Mar Del Plata-1995 e logo passou para o profissional.
O hoje chefe de delegação subiu ao lugar mais alto do pódio para fotografias com Lima - lugar esse que ele não alcançou 12 anos atrás e que o novato agora derrubou o jejum de 44 sem ouro no Pan. "Agora eu sou o coadjuvante aqui. O campeão está ao meu lado", disse Popó diante dos holofotes.