Dois baianos estão classificados para buscar o ouro no boxe do Pan. Em comum, a história de vida modesta e o subemprego. De diferente, onde começaram na modalidade: Everton Lopes treinou na academia de Popó, enquanto Pedro Lima iniciou com Luis Carlos Dórea, que foi técnico do campeão mundial, mas que virou desafeto do ex-boxeador.
Para ambos, a glória esportiva substitui um passado carente em Salvador. "Eu vendia chocolate no ônibus, picolé na rua e até fui servente de pedreiro", conta Lima. "Mas o Dórea me ajudou. Ele nem me conhecia e me deu R$ 15 para eu comprar remédio. Teve confiança. Agora estou aqui", disse o meio-médio, prendendo as lágrimas diante das câmeras.
O técnico também fez cara de choro ao falar do pupilo. Quem parecia deslocado na cena era Acelino Freitas, o Popó. Ele é chefe da delegação brasileira e superior hierárquico do técnico Dórea, a quem processa na Justiça por danos enquanto lutava profissionalmente.
Mas o Popó teve seu momento nos holofotes após a vitória do leve Lopes, que começou em sua academia, com direito a abraços e palmadas no novato. "Entreguei muita compra de supermercado para sobreviver, mas agora estou vivendo um sonho", disse para explicar sua trajetória de vida.
O ouro poderia significar uma melhora na vida de Lopes e de sua mãe, que mora em Salvador. O horizonte do profissionalismo não está descartado, mas a comodidade de estar na seleção nacional também é atraente, ainda mais com a Olimpíada de Pequim se aproximando em 2008.
A possibilidade de trazer o ouro após 44 anos de jejum, os três últimos foram no Pan paulistano de 1963, também atrai. "É muito tempo sem ouro. Com essa torcida vibrando, que venha o ouro", se empolga o baiano.