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24/07/2007 - 19h55

"O dia passou muito rápido", afirma Janeth

Giancarlo Giampietro
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

As últimas horas de Janeth, 38, como jogadora de basquete passaram rapidamente. Nesta terça-feira, a atleta viu os 24 anos de sua carreira em flashes por pouco mais de seis horas.

"O dia passou mais rápido que o normal", afirmou a jogadora, que marcou 14 pontos e pegou sete rebotes na derrota para os Estados Unidos, por 79 a 66, na Arena Multiuso do Pan. "Mas aproveitei o momento. A história que passou não foi só a de hoje, mas desde quando iniciei minha trajetória."

Depois de deixar o pódio com a medalha de prata, já restabelecida da emoção logo ao final da partida, a ala Janeth falou ao público presente à Arena Multiuso.

"Obrigado pelo carinho, mas só posso dizer que a vida continua", afirmou.

Ela então resolveu cantar um trecho do hit "Emoções", de Roberto Carlos, como mensagem final. "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi".

No pódio, as jogadoras da seleção usaram camisetas em homenagem à veterana. Cada uma tinha imagem e palavra distintas que completavam a frase "Janeth é...". Algumas delas: sucesso, coragem, seriedade, exemplo, superação, disciplina, garra e vitória.

Após o tempo de descanso, Janeth afirmou que pretende voltar ao esporte, mas em outra função. Está em dúvida entre ser técnica, dirigente ou comentarista, função que desempenhou neste semestre. "Ou talvez não faça nada disso, tem de ver se vou gostar."
"EMOÇÕES" E HOMENAGEM
A ala acordou tarde em seu apartamento na Vila Pan-Americana. Ela dorme sozinha em seu quarto, em privilégio decidido pelas companheiras de equipe da seleção. Para não se incomodar pela manhã, colocou um cobertor na janela para deixar tudo bem escuro.

"Tomei café da manhã apenas às 11 h, aí nem almocei. Então fomos para uma reunião para assistir a alguns tapes dos Estados Unidos. Depois foi hora de fazer um tratamento na bolha [no pé esquerdo], que hoje piorou. Está em carne viva", afirmou.

Agora, já como ex-atleta, Janeth quer em primeiro momento "uma vida sedentária", sem nenhum pudor.

"Não sou de dormir tarde. Mas agora vamos ver se eu não pego uma sessão coruja. Quero me dedicar às pequenas coisas mesmo. Tirar férias, de perna para o alto, ficar o dia inteiro comendo pipoca. As coisas bem simples que a rotina não deixava. Só não vou correr nem malhar mais, pelo menos por enquanto", disse.

A veterana começou no basquete em 1983, assistindo ao Mundial em São Paulo. A emoção do campeonato a fez deixar o vôlei para trás. "Quando comecei no esporte, fui jogadora de vôlei no Corinthians, pois lá não tinha basquete, e eu era até boa nisso, pois saltava bastante e era alta. Mas me decidi a mudar de modalidade mesmo quando vi o Mundial de 1983 em São Paulo, aí vi que queria mesmo o basquete. Foi quando minha mãe me levou para Catanduva e comecei a treinar."

Foi acelerada a adaptação da paulista de Carapicuíba à bola laranja e às cestas. Em 1986, ela já estreava na seleção brasileira, da qual é a maior vencedora da história. Conquistou o Mundial de 1994, as medalhas olímpicas de prata em Atlanta-1996 e de bronze em Sydney-2000. Ela tem o ouro pan-americano de Havana-1991 e ainda mais cinco títulos sul-americanos.

"Foram vários momentos, mas lembro especialmente do Pan de Cuba, em que eu era muito nova e entrava em uma geração tão vencedora. Depois teve o título do Mundial em 1994, que me fortaleceu muito como atleta e pessoa. E também os títulos na WNBA, quando estava sozinha em outro país e segurei uma barra que ajudou a abrir as portas paras as outras meninas", afirmou.

Ela conquistou quatro títulos da liga profissional norte-americana, pelo Houston Comets, onde foi companheira da técnica da seleção dos Estados Unidos, Dawn Staley, campeã no Rio de Janeiro. "Acho que o basquete todo perde uma grande jogadora, que foi exemplo para muitas", disse.

"É mais parar. Quando comecei, nem pensava muito em nada. Ficava o dia inteiro treinando. E hoje já não dá mais para fazer isso, não?", completou.