UOL Esporte - Pan 2007
UOL BUSCA

24/07/2007 - 21h15

Com vergonha da torcida, brasileiro culpa vaias por mau resultado

Fernanda Brambilla
Enviada especial do UOL
No Rio de Janeiro

"O Brasil nunca mais vai sediar nenhum grande evento esportivo, pode apostar. O comportamento da arquibancada é inaceitável e tenho vergonha de ter que me justificar a todos os atletas toda hora."

O desabafo é de Ivan Silva, sétimo colocado no decatlo masculino dos Jogos Pan-Americanos. Para o brasileiro, a torcida, que vaiou incansavelmente todos os adversários do país - principalmente cubanos e argentinos - é motivo de vergonha.

"É preciso mudar a cultura do povo, porque isso é horrível. Isso não acontece em nenhum outro lugar do mundo, só aqui. Não é porque Brasil e Argentina têm rivalidade no futebol que tem que sair vaiando atleta. Atletismo não é futebol, não tem o menor sentido transferir os sentimentos de um esporte para outro", reclamou o brasileiro, que considera que foi prejudicado pelas vaias aos adversários.

"É muito chato, é vergonhoso. Os caras não entendem nada. Eu não quero chegar em um país e ser vaiado, é muito desconcertante e a gente não precisa disso, esse comportamento não ajuda os brasileiros em nada", continuou, bastante nervoso. "Posso dizer que boa parte da minha tensão teve a ver com isso. Errei 10 provas, fiz muitos erros ao longo dos dois dias, mas esse clima me derrubou."

Para o brasileiro, o público precisa ser reeducado para que entenda o que é "espírito olímpico." "Não tem que vaiar, tem que aplaudir atleta."

A mesma torcida, entretanto, foi motivo de orgulho para outro brasileiro, Carlos Chinin, que atribuiu aos mesmos torcedores barulhentos a conquista do bronze. "Me senti um 'superstar' no palco. Foi a torcida que me deu essa medalha. Sem os gritos de incentivo, não teria conseguido ânimo para ir tão bem nos 1.500 m."

O vencedor do decatlo, o jamaicano Maurice Smith, saiu da prova sem entender o motivo da hostilidade. "Eu bem que fiquei me perguntando: 'Por que será que estão vaiando alguns caras?'. Mas não entendi, e não me importei. Para mim particularmente os brasileiros foram muito cordiais e me apluaudiram bastante, fui muito incentivado", elogiou Smith.

Muito diferente foi a impressão do cubano medalhista de prata na mesma modalidade, Yordan García. "É sempre assim com Cuba. Qualquer cubano que compete, os brasileiros caem em cima", reclamou García, com tom de conhecimento de causa.

"A arquibancada fez barulho o tempo todo, às vezes nem conseguia escutar nada lá dentro", reclamou o cubano, que se disse 'perseguido'. "Não são todos os adversários, é só os cubanos." Questionado sobre a forte vaia também ao argentino, ele ainda balançou a cabeça. "Para argentino também? Ah, mas cubano eles vaiam mais."