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23/07/2007 - 21h41

No Engenhão, torcida brasileira volta a perturbar atletas estrangeiros

Fernanda Brambilla
Enviada especial do UOL
No Rio de Janeiro

Depois de derrubar um ginasta da barra e causar um tumulto entre atletas no judô, foi a vez da torcida brasileira marcar presença nas provas disputadas no estádio João Havelange. No atletismo, porém, a estratégia foi usar as já famosas vaias aos estrangeiros.

Na disputa do salto com vara, vencida pela brasileira Fabiana Murer, a norte-americana April Steiner foi fortemente vaiada a cada tentativa de salto, e não conseguiu avançar dos 4,40 m. Do colchão, April gesticulava em direção à arquibancada, incrédula. A cubana Yarisley Silva, então, foi longamente aplaudida a cada falha. O tormento foi tanto, que até a canadense Dana Ellis deixou a competição sem acertar nenhum salto.

O locutor do estádio até tentou amenizar a situação das atletas, e pediu em diversos momentos para que a torcida não vaiasse, mas ovacionasse também os estrangeiros. Mas a tentativa de boas maneiras não obteve sucesso, e os gritos e vaias prosseguiram até o fim das provas desta segunda.

"Foi até um pouco chato, porque elas ficavam rindo, de nervoso, e diziam: 'Não acredito nisso, eles torcem muito, estão muito do seu lado, assim não dá', mas acho que levaram na brincadeira. Ao menos, é o que eu espero", comentou Fabiana Murer que, por sua vez, foi muito incentivada a cada salto.

"Acho que elas não estão acostumadas com isso, mas já devem ter percebido que no Brasil as coisas são um pouco diferente. Eu fiquei até um pouco com pena da canadense, porque isso desconcentra mesmo, todo mundo gritava muito. Acho que a prova fica até mais bonita quando mais gente acerta, né?", disse a brasileira, que também sentiu o peso da pressão. "Todo mundo me chamava, gritava, fiquei muito ansiosa. Ainda bem que soube controlar isso direito."

O técnico da brasileira, Elson Miranda, desconversou. "Não se vê esse tipo de coisa em nenhum outro lugar do mundo. Mas aqui é assim, é o que acontece", limitou-se a dizer.

Quem conseguiu reverter a situação a seu favor foi a norte-americana Sara Slattery, que elogiou os brasileiros. "As pessoas estão de parabéns. É muito bonito o que fazem, de incentivar. Eu mesma fiquei mais motivada de correr aqui", disse a vencedora dos 10.000 m.