UOL Esporte - Pan 2007
UOL BUSCA

22/07/2007 - 23h05

Casal brasileiro repete ouro e bronze na patinação artística do Pan

Rodrigo Bertolotto
Enviado especial do Rio
No Rio de Janeiro

Há vários caminhos à medalha pan-americana. Um deles é pegar a avenida Brasil e ir embora em direção da zona Oeste carioca, passando o motel Carbonara, o clube Unidos da Vila Kennedy, virando na estrada do Mendanha, depois do West Shopping Rio entrar na rua Olinda Elias, ir toda a vida até o Complexo Miécimo da Silva, a sede mais longe dos Jogos do Rio.

EFE
Marcel Sturmer superou problema muscular para conquistar o bicampeonato no Pan
EFE
Estreante, Juliana foi bronze apresentando coreografia embalada pelo tango argentino
VEJA AS FOTOS DAS APRESENTAÇÕES
PERFIL DA DUPLA DE MEDALHISTAS
PÁGINA ESPECIAL DA MODALIDADE
Dentro do ginásio, mais um trajeto. Só que agora feito de curvas e rodopios e sobre as rodinhas dos patins. A patinação artística reservou neste domingo para o Brasil um ouro para Marcel Sturmer e um bronze para Juliana Almeida. Sturmer chegou ao bicampeonato pan-americano, e o Brasil repetiu os mesmos metais obtidos em Santo Domingo-2003.

O gaúcho Sturmer, com o mapa do Brasil de lantejoulas nas costas, dançou um mix de ritmos nacionais para levantar o público. Já a paulista Juliana Almeida escolheu a música do país vizinho, o tango. E ficou no terceiro lugar.

No masculino, Sturmer foi o último a se apresentar e sentindo a pressão da ótima apresentação do rival argentino, Daniel Arriola. "Ele foi perfeito. Estava assustado porque ele já me venceu em torneios, incluindo o Mundial. Tive que usar todos meus recursos. Mas a reação da torcida me arrepiou dos pés à cabeça e dei o meu melhor", disse logo após o feito. O norte-americano Josh Rhoads ficou com o bronze.

Medalha de prata, o argentino Arriola portava uma roupa marrom que simulava trapos e a coreografia mostrava alguém sendo chicoteado e se livrando de correntes, uma representação de escravo bem diferente do brilho dos outros competidores. Na comemoração, por ter feito ótima apresentação, rebolou como uma sambista diante dos aplausos do público. "Não gostei disso, no Brasil tentando se fazer de brasileiro. Isso me deu mais gana para minha coreografia", cutucou nas entrevistas na zona mista.

Após a competição, o brasileiro disse que competiu lesionado, porque sentiu uma fisgada muscular nos primeiros treinos no Rio. "Não quis falar antes para não chamar a atenção", disse Sturmer.

Para o argentino, o patinador local conseguiu o ouro por mexer com o público com a música brasileira. "A inteligência superou a técnica", afirmou, contrariado, Arriola.

Entre as mulheres, a argentina Leila Vanzulli ficou com o ouro, a norte-americana Abigail Burris garantiu a prata, e a brasileira Juliana Almeida, 16 anos, superou a chilena Marisol Villarroel para ficar com o bronze. "Sempre me apresento melhor no segundo dia que no primeiro. Foi o diferencial", disse Juliana.

Já a argentina Vanzulli se queixou das vaias nacionais. "Esse clima de futebol da torcida atrapalha, desconcentra. Foi um mal momento, mas depois eles viram que minha apresentação foi a melhor e aplaudiram", se lamento a vizinha.

Muito brilho e lantejoulas e pouco tecido nos trajes. Muita música orquestrada como fundo musical. Muita perna para cima , braços ondulantes. A paisagem suburbana do bairro de Campo Grande deu lugar para as firulas e arabescos sobre rodas ao som de música clássica.

De diferente na prova feminina, a mexicana Yazmin Acosta, com uma apresentação gótica de roupa negra e cruz no peito, a chilena Marisol Villaroel imitando cobra e com uma de pano enrolada nos braços e a argentina Leila Vanzulli com um vestido glitter espacial para representar Cleópatra.

Os cinco juízes dão uma nota para a técnica e outra a impressão artística. Da média saem as vencedoras. A competição acontece em duas noites. Na primeira, os competidores fazem um programa curto, que vale 25% da pontuação final. Na segunda jornada, os patinadores fazem uma apresentação longa, que vale 75% da nota final.

Na véspera, Sturmer já tivera a melhor pontuação, seguido pelo argentino Arriola, o norte-americano Rhoads e o colombiano Diego Duque. Já na preliminar feminina, a primeira colocada tinha sido Abigail Burris (EUA), escoltada por Leila Vanzulli (Argentina), Marisol Villaroel (Chile) e Juliana Almeida (Brasil).

Para um público suburbano e familiar, que antes da competição se divertia com o locutor se esforçando em falar espanhol e inglês, diversão maior foi o espetáculo brilhante dos medalhistas mais glamorosos desse Pan. Um verdadeiro embalo de domingo à noite.