O brasileiro Tiago Camilo precisou de apenas 1 minuto e 59 segundos para colocar a medalha de ouro do Pan-Americano do Rio de Janeiro no peito. Esse foi o tempo somado de seus três combates, todos vencidos por ippon, o golpe decisivo do judô.
A primeira vítima, o porto-riquenho Chiclana, o judoca despachou em 1 minutos e 8 segundo. A segunda, o norte-americano Hawn, foi embora após 20 segundos. Nem mesmo na final, contra o cubano Benavides, Tiago precisou de muito: foram só 31 segundos.
O tempo pode ter parecido curto para quem assistiu. Mas, para o medalhista, o trabalho começou muito antes de subir no tatame do pavilhão 4A do Riocentro. "A batalha até aqui foi árdua. Às vezes, as pessoas acham que é só subir e lutar. Mas o que vale a pena é a jornada, o dia-a-dia. É acordar cedo, ir treinar, um dia, um mês, um ano, dois, três, dez anos. É muito tempo pra se dedicar por um sonho".
O sonho de Tiago, aliás, também foi conquistado rapidamente. Nas Olimpíadas de Sydney-2000, quando ficou com a medalha de prata aos 18 anos, foi o judoca mais novo da história a subir em um pódio olímpico. Desde então, uma série de dificuldades atrapalhou sua carreira.
Hoje, sete anos depois daquela conquista, ele é um atleta diferente. Mais pesado, inclusive. A prata olímpica foi conquistada entre os leves, até 73 kg. O ouro pan-americano desta sexta, entre os médios, até 90 kg. O detalhe, porém, foi que Tiago tentou a vaga em outra categoria, os meio-médios, até 81 kg.
"Sou guerreiro e estou sempre pronto para batalha. Fui convocado pelo meu país e aceitei como um desafio lutar entre os médios. Meu processo seletivo foi com o (medalhista olímpico Flávio) Canto. Mas a lesão do Pessanha e mau rendimento do Honorato forçaram minha subida de categoria", explica.
A mudança, porém, não deve ser definitiva. "Essa competição foi única. Acabando o Pan, tenho uma seletiva com Flávio e meu ciclo olímpico é nos meio-médios. Depois que conquistar os objetivos que tracei, posso mudar de categoria. Até lá, tenho que cumprir algumas coisas comigo mesmo".
O técnico da equipe masculina, Luiz Shinohara, concorda com o pupilo. "Foi uma condição extraordinária. No Pan, o Tiago era medalha de ouro quase certa no 90 kg e o Honorato não está bem. Mas ele é muito leve para a categoria. Para a Olimpíada, ou até mesmo para o Mundial, ainda não dá", diz o ex-judoca, citando Mundial do Rio, em setembro.
Paulista de Tupã, Tiago treina em Porto Alegre no mesmo clube de Mayra Aguiar - prata nesta sexta-feira na categoria até 70 kg - e João Derly, atual campeão mundial.