A história se repetiu. O Brasil voltou a falhar nos momentos decisivos e deixou escapar nesta quinta-feira a sua primeira medalha de ouro em esportes coletivos nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. No ginásio do Maracanãzinho a seleção feminina de vôlei perdeu para a arqui-rival Cuba por 3 sets a 2, com parciais de 25-27, 25-22, 22-25, 34-32 e 17-15, e ficou com a medalha de prata na competição. A seleção nacional desperdiçou seis match points na partida, quatro deles no quarto set e dois no tie-break.
Apesar do apoio maciço da torcida, o time comandado por José Roberto Guimarães repetiu os erros da Olimpíada de Atenas-2004 e do Mundial do Japão, no ano passado. Assim, viu Cuba recuperar a hegemonia no torneio feminino de vôlei do Pan. As caribenhas, que nas duas últimas edições ficaram com a prata, agora têm oito títulos nos Jogos. Já o Brasil segue com apenas três medalhas de ouro, conquistadas em Chicago-1959, São Paulo-1963 e Winnipeg-1999.
Além de Brasil e Cuba, a seleção dos Estados Unidos também completou o pódio feminino do vôlei no Pan ao vencer o Peru por 3 sets a 0, com um triplo 25-22, na decisão do terceiro lugar.
"Foi um jogo muito igual. É difícil explicar quando um time vence por dois pontos no tie-break. Precisamos rever o jogo", lamentou o técnico do Brasil, José Roberto Guimarães.
Este é o segundo campeonato seguido que o Brasil perde a final no tie-break. Em novembro do ano passado, a seleção foi vice-campeã mundial caindo diante das russas. No jogo realizado no Japão, as brasileiras venceram o primeiro set, deixaram as adversárias virarem o placar da partida, mas conseguiram forçar o set de desempate. Na quinta parcial, contudo, apesar de ter marcado os primeiros pontos e chegar a abrir 13 a 11, as brasileiras se desequilibraram no final, permitindo a virada por 15-13 e a vitória da Rússia, em um ponto de Gamova, após um erro de passe da defesa brasileira.
Nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, as russas foram as responsáveis pela derrota brasileira nas semifinais, na virada mais constrangedora da atual geração da seleção brasileira. O Brasil venceu os dois primeiros sets, teve seis chances de fechar o jogo na quarta parcial, mas desperdiçou todas. No tie-break, o time nacional também teve chance de fechar, mas, em um ataque pra fora de Mari, a vitória foi russa.
Na disputa pelo bronze, com Cuba, as brasileiras mostraram o abatimento depois do resultado negativo contra as russas e perderam por 3 sets a 1. Assim, as cubanas deixaram o Brasil fora do pódio pela primeira vez desde as Olimpíadas de Barcelona-1992.
Na final do Pan 2007, as cubanas conquistaram mais um triunfo diante das brasileiras. As duas seleções haviam se encontrado em duas finais pan-americanas antes dos Jogos do Rio, com uma vitória para cada lado. Cuba venceu em Havana-1991 e perdeu em Winnipeg-1999. Agora desempata o placar a seu favor, com o "bônus" de vencer na casa das brasileiras, em um ginásio do Maracanãzinho lotado.
O jogoO Brasil começou o jogo desta quinta com a levantadora Fofão, as centrais Walewska e Fabiana, as pontas Paula Pequeno e Sassá, a oposto Sheilla e a líbero Fabi. E encontrou muita dificuldade no começo da partida, principalmente por causa do forte saque cubano. Como o passe brasileiro não funcionou direito, as atacantes pararam no bloqueio das caribenhas.
Cuba abriu 5-1 de vantagem e obrigou o técnico José Roberto Guimarães a pedir tempo. Aos poucos, o Brasil começou a passar melhor, e Sheilla e Paula Pequeno diminuíram a vantagem.
Dois pontos de Paula, um no ataque e outro no bloqueio, fizeram o Brasil passar à frente do marcador pela primeira vez (13-12). As duas equipes passaram então a se alternar na liderança.
O set foi definido nos últimos pontos. Dois bloqueios seguidos, o último deles conseguido pela levantadora Fofão, deram a vitória ao Brasil por 27 a 25.
Na segunda parcial, Cuba usou a mesma tática de sacar forte. Com dois aces, abriu três pontos de vantagem (6-3), obrigando novamente o Brasil correr atrás da diferença.
Desta vez, a reação brasileira demorou mais a chegar. O país só passou à frente do placar no ponto que levou ao segundo tempo técnico (16-15), com Sassá em uma jogada de sorte.
Cuba não se entregou, e voltou a dominar o jogo. Um ataque para fora de Mari deu o set point às caribenhas. Na seqüência, Sheilla ficou no bloqueio e definiu a parcial em 25-22 a favor das cubanas.
No terceiro set, as cubanas aproveitaram os erros do Brasil para largarem na frente. As brasileiras, entretanto, não perderam a concentração. E com um ace de Fabiana assumiram a liderança do marcador (6-5). Um outro ponto de saque, agora marcado por Sheilla, levou o time ao tempo técnico com mais vantagem (8-6).
As cubanas ainda tentaram segurar a equipe do Brasil, mas um ponto de Walewska fez com que a diferença chegasse a três pontos (15-12). Dois erros seguidos das brasileiras deixaram a partida empatada (17-17).
Zé Roberto fez então duas modificações, colocando em quadra Carol Albuquerque e Regiane e tirando Fofão e Sheilla. As mudanças deram resultados, e o Brasil voltou a dominar o jogo. Um bloqueio de Regiane colocou a equipe novamente dois pontos na frente (20-18).
Cuba se desestabilizou, o Maracanãzinho explodiu em gritos e o Brasil se sobressaiu, fechando o set em 25 a 22, após um ataque para fora de Calderón.
Na última parcial, o equilíbrio prevaleceu no início. Nenhum time conseguiu abrir vantagem até Cuba fazer 11-8 com um bloqueio sobre Paula Pequeno. Zé Roberto tentou reverter a situação colocando Carol Albuquerque e Regiane novamente em quadra.
A diferença, que chegou a ser de cinco pontos (15-10), caiu para dois (15-13). Mas a reação parou por aí. E Cuba novamente colocou cinco pontos de frente (19-14). Fofão e Sheilla voltaram à quadra e o Brasil reagiu novamente. Ao som de "vamos virar", ecoado por toda a arquibancada, o time marcou cinco pontos seguidos e conseguiu o empate.
Cuba teve ainda dois set points, mas permitiu uma nova reação do Brasil, que teve quatro chances de fechar o jogo. Como a seleção não aproveitou, as cubanas ganharam a parcial por 34 a 32.
A vitória animou Cuba no tie-break, e as caribenhas abriram 2-0. Mas a excelente passagem de Sassá no saque fez com que o Brasil marcasse cinco pontos seguidos, construindo uma boa vantagem.
O Brasil, então, tentou a administrar a diferença, mas Cuba virou para 10-9 com um bloqueio ataque de Calderón. Na seqüência, Sheilla colocou o Brasil de novo na frente. A seleção teve dois match points, mas permitiu a virada de Cuba que ganhou por 17 a 15 em uma bola duvidosa.
"Cuba acabou vencendo em uma bola de sorte. Quem definiu foi a bandeira", disse Zé Roberto, que preferiu não polemizar com a arbitragem. "Acho que a arbitragem foi boa. Não tenho nada a dizer."