Tem o fator casa, a torcida a favor. Tem o investimento no esporte nacional nunca antes visto. Nada disso, porém, fez o Brasil deixar de repetir a tradição de ter pouco aproveitamento quando chega a uma final olímpica ou pan-americana (ou, para ser mais popular, "amarelar"). O quadro de medalhas desta quinta-feira e uma comparação com os algozes cubanos mostram isso.
Os comunistas têm 20 ouros e seis pratas. Das sete finais que disputaram até agora no Pan, venceram seis - um aproveitamento de 85,7%. Quando vão decidir, os comandados de Fidel Castro desequilibram.
Já os brasileiros somam mais pratas que ouros (14 contra 11), e só venceram uma decisão de um contra um - com Diogo Silva, no taekwondo. Por outro lado, foram quatro derrotas em disputas cara a cara pelo ouro, ou seja, apenas 20% de aproveitamento.
As derrotas no vôlei e no judô diante de Cuba mostram que não se pode vacilar diante deles. Tanto no tatame quanto na quadra, as disputas foram apertadíssimas, mas a seleção feminina e o judoca Oscar Brayson mostraram frieza e determinação na hora H.
Já o Brasil teve outra vez de explicar por que perdeu. "É difícil explicar quando um time vence por dois pontos no tie-break. Precisamos rever o jogo", foi a primeira reação do técnico vôlei do Brasil, José Roberto Guimarães. Ele já demonstrava preocupação antes da competição começar, pela pressão sobre suas subalternas - o que acabou acontecendo.
Já o técnico da equipe masculina de judô, Luiz Shinohara, criticou seu pupilo João Gabriel Schlittler principalmente no tempo de desempate, o Golden Score. "Faltou iniciativa. Ele ficou preso em golpes que não deram certo. Ele não conseguiu sair do jogo cubano".
O esporte brasileiro nunca teve tanto dinheiro, graças à lei Piva, que destina 2% do total arrecadado com as loterias federais. Mas Cuba recebeu mais dinheiro com um acordo de intercâmbio com a Venezuela de Hugo Chávez, que atualmente cumpre o papel de financiador da economia cubana que um dia foi da União Soviética.
Com essa verba suplementar vinda de Caracas, a ilha pretende parar a linha descendente nos últimos Pans. Em Havana-1991 e Mar Del Plata-1995, os comunistas passaram fácil da marca centenária de ouros (130 e 113, respectivamente).
Nos Pan-Americanos seguintes, o número caiu para 70 medalhas douradas em Winnipeg e 72 em Santo Domingo-2003. No Rio, a projeção cubana é igualar e se possível ultrapassar essas marcas. Mas, se continuar decidindo a seu favor as finais, esse Pan pode sair melhor que a encomenda.
Já o Brasil precisa de mais sorte, garra e cabeça fria para que no fechamento deste Pan não aconteça como no final desta quinta: o país-sede atrás do Canadá justamente por duas decisões perdidas. Afinal, o objetivo declarado do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para Rio 2007 é superar os canadenses.