UOL Esporte - Pan 2007
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17/07/2007 - 21h53

Atrás de pódios, "brasileiro cordial" vaia forasteiro no Pan

Bruno Doro, Fernanda Brambilla, Giancarlo Giampietro e Rodrigo Bertolotto
Enviados especiais do UOL

A vaia para o presidente Lula na cerimônia de abertura foi só o começo. O público do Pan vem vaiando tudo e todos que rivalizem com os atletas brasileiros. Mas a mãozinha da torcida ultrapassa várias vezes as raias da má-educação e da afronta.

No tiro, esporte de silêncio exigido pela concentração extrema exigida aos competidores, o público vaiava cada vez que a canadense Cinthya Meyer ia atirar. Afinal, ela estava disputando o bronze com a brasileira Janice Teixeira. Quando o tiro da canadense errava o alvo, os torcedores aplaudiam. No final, as duas ficaram fora do pódio.

No taekwondo não foi diferente. A mexicana Rosário Espinoza foi vaiada ao vencer Natália Falavigna, ao subir ao pódio e ao ouvir o hino mexicano. Vaiar hino alheio é gesto bastante descortês.

"Nunca vi isso. Os brasileiros são muito hospitaleiros, mas, quando começa a competição, tudo muda", declarou a mexicana, que ainda foi alvo de gestos obscenos por parte de alguns torcedores.

"Transformei as vaias para mim como para fossem para ela. E quando a torcida brasileira gritava, eu ouvia `México, México´. Isso me motivou mais", disse Rosario.

No handebol, o alvo foram as cubanas. Quando elas entraram no pavilhão do Riocentro para acompanhar a preliminar ao jogo delas com as brasileiras, a torcida endereçou gritos de "1, 2, 3, Cuba é freguês" e só ficou contente quando elas abandonaram o local -com direito a aplauso quando as caribenhas se retiraram.

Na ginástica artística, o expediente se repetiu, com direito a uma ilustre puxador de vaia: Oscar Schmidt. Após uma apresentação de Diego Hypólito, o ex-jogador de basquete começou a vaiar os demais atletas para atrapalhá-los. Quando o chileno Enrique González Sepulveda subiu ao tablado, o maior cestinha do basquete brasileiro gritou: "Vai cair, Chile, vai cair".

Parte da platéia adotou esse comportamento, em especial, contra as norte-americanas, seguindo um padrão desde a abertura da modalidade no Pan, no sexta passada.

A ginasta Laís Souza reprovou a iniciativa. "A torcida nos deu energia. Mas só não gostei dessa parte da vaia, acho que na ginástica não pode existir isso", afirmou. "A ginástica não é futebol. Cada uma compete de uma vez, mas você não pode torcer contra. Com certeza isso um dia pode voltar contra você."

Os argentinos foram alvos das vaias e provocações, principalmente, depois da conquista brasileira da Copa América de futebol. Mas os norte-americanos são os alvos prediletos, seja por ser o favoritíssimo a ganhar o Pan, seja pelo papel que ocupa na política mundial que ocupa.

Na cerimônia de abertura, sobraram assobios e vaias para a Venezuela e Bolívia, sinal de que a platéia do Maracanã não simpatizava com a dupla Hugo Chávez e Evo Morales. A hospitalidade carioca termina quando começa a competição.