UOL Esporte - Pan 2007
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16/07/2007 - 19h58

Tapas, popozudas e cantadas quase pegam bronze no peso

Rodrigo Bertolotto
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

A torcida veio de Realengo, Duque de Caxias, Vigário Geral e Olaria. Primeiro negociou com o patrão para conseguir a folga na segunda-feira. Tinha faxineira, enfermeira, mecânico, costureira e auxiliar de escritório. Eles pegaram duas conduções até Jacarepaguá e chegaram atrasados para o grande evento. Ainda bem que a prova atrasou, e não perderam nada.

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Na torcida, "Popozuda" Aline lamenta contusão em na prova de levantamento
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No total, a torcida particular de Liliane Lacerda no Pan somava 50 pessoas
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A levantadora colombiana Leidy Solis ganha massagem do técnico antes da prova
PERFIL DE ALINE
PERFIL DE LILIANE
Tudo para ver o levantamento de peso do Pan. Tudo para ver Liliane Lacerda, moradora da Cidade de Deus que bateu o recorde brasileiro, mas acabou ficando com o quarto lugar no torneio até 63 quilos do Pan. Tinha mãe, pai, madrasta, avó, irmãos, tios e uma dúzia de primos. Eles, aliás, garantiram até provocações em direção às rivais estrangeiras.

"Que lombo, acho que vou me apaixonar", disparou um deles, quando a norte-americana Natalie Woolfolk se baixou para começar o movimento de arranque. Com o treinador dos EUA gritando logo ao lado ("great there" e "come on"), outro primo se empolgou: "I love you, baby".

Além da medalhista de bronze, as cantadas também foram dirigidas para a colombiana que levou o ouro, Leidy Solis. "Essa é gata pura. Está pegando tudo. Eu queria pegar ela", soltou outro do clã Lacerda.

No total, a torcida particular de Liliane somava 50 pessoas. A mãe, Dona Neriana e a tia Celma trabalharam no fim-de-semana para poder ganhar folga no dia útil. Outra tia, Elsa, ficou no batente até as 13h na loja Babadão da Folia, na região do Saara, área de comércio popular do Rio. Ela pegou dois ônibus e andou 20 minutos para chegar no pavilhão do Riocentro. "O motorista informou errado, quase nos perdemos", disse a parente.

Na torcida para Liliane também estavam as chamadas "popozudas do levantamento", grupo de cinco das sete representantes do Brasil no levantamento do Pan formado por garotas da zona Norte carioca.

"A mulherada vê que a gente tem um corpão e pergunta o que a gente faz. Quando que a gente fala que é levantamento, elas desistem", conta Eliane Silva, que ficou no 10º lugar em sua categoria. Ao seu lado e com o pé engessado, Aline Campeiro lamenta ter se contundido quando comemorava um levantamento, não pôde seguir competindo e deixou escapar também um bronze.

Funk elas gostam, mas a rotina de treinamento as afastam dos bailes. Tapinha só do técnico Dragos Stanica, romeno que está totalmente ambientado no Rio. "Eu gosto de uma tapa para reanimar", diz Liliane. "Eu prefiro não bater, não foi isso que eu aprendi na faculdade de educação física", desmente Dragos.

Já o treinador cubano José Santa Cruz aplicou vários tabefes em Edilia Amoro, primeira cubana a disputar um Pan no levantamento feminino. O técnico colombiano foi mais delicado, massageando a sobrancelha e as coxas de sua pupila. Deu resultado: Leidy Solis ficou com o ouro e o recorde pan-americano.

A brasileira também se realizou com o quarto lugar e o recorde brasileiro, tanto no arranque (90 quilos) como no arremesso (107). A família invadiu a área de imprensa para abraçar a halterofilista. "Valeu a pena erguer a Liliane no colo. Hoje ela levanta muito mais", brincou a mãe.