UOL Esporte - Pan 2007
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15/07/2007 - 23h42

Sem papa-medalhas, taekwondo salva a cara do Brasil

Bruno Doro
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

O programa dos dois primeiros dias do Pan-Americano do Rio de Janeiro não foi muito gentil com o Brasil. Recheado de provas como levantamento de peso, esgrima ou badminton, modalidades sem nenhuma tradição no país, quem salvou a torcida verde-amarela foi uma luta que está crescendo muito por aqui, o taekwondo.

Foi no tatame do Riocentro, onde está sendo disputada essa luta oriental, que o primeiro ouro brasileiro chegou, após 11 tentativas de prata ou bronze. Com Diogo Silva, o Brasil conseguiu finalmente ouvir seu hino no Pan.

A reação emocionada do paulista de 25 anos, que chorou copiosamente do alto do pódio, traduzia um sentimento: "Chegou a minha hora". E, ao que tudo indica, chegou a hora do taekwondo também, que, além do ouro de Diogo, conquistou a medalha de prata de Marcio Wenceslau e ainda tem pelo menos uma para vir, com a campeã mundial do ano passado, Natália Falavigna.

O momento que a modalidade escolheu para brilhar não poderia ser melhor. Os papa-medalha brasileiros, como a natação, começam apenas nesta segunda-feira. O atletismo, só na segunda semana, assim como o judô.

Até mesmo os que já começaram ainda não estão no momento favorável ao Brasil. A ginástica, por exemplo, vibrou com as pratas por equipes, mas as grandes chances de ouro são nas provas individuais por aparelho, a partir de terça-feira. Nos coletivos, que também devem deixar mais dourada a lista de medalhas do Pan, as medalhas também só saem no final da primeira semana.

Com isso, os brasileiros descobriram algumas histórias que mereciam ser contadas. A do primeiro medalhista do esporte, por exemplo. Márcio Wenceslau, que é irmão de um atleta olímpico, Marcel, e que, sem grande apoio da Confederação Brasileira, gastou dinheiro do próprio bolso para viajar ao exterior, no começo do ano.

Ou a de Diogo Silva, o "pantera negra", um atleta com posturas claras políticas, que foge do lugar-comum. "Acho que atletas de alto nível devem, sim, ter uma postura política definida. Damos exemplo, porque não passar uma mensagem adequada?", diz.

Nada mais natural para um garoto de família pobre, que cresceu em uma comunidade violenta de Campinas, no interior de São Paulo. "No meu bairro, quem era respeitado era quem tinha arma. Muitos amigos meus entraram na violência e ainda estão no crime", conta.

Personagens interessantes, que estão ajudando na evolução quase meteórica dessa modalidade no país. Em uma década, o taekwondo já tem uma campeã e um vice em campeonatos mundiais (Natália e Márcio), além de dois quarto lugares em Olimpíadas, desempenho que já começa a rivalizar com o do judô, a luta mais vitoriosa do país do programa olímpico.

"Em uma década, nós conseguimos um campeão mundial, coisa que o judô demorou muito mais. Acho que o caminho é esse. Ainda não somos uma modalidade tão grande, mas estamos no caminho. Quem sabe não chegamos, em breve, ao mesmo patamar?", questiona Diogo Silva.