UOL Esporte - Pan 2007
UOL BUSCA

15/07/2007 - 14h40

Massacre das leonas sobre brasileiras vira anedota do Pan

Rodrigo Bertolotto
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

"O resultado foi anedótico. Vai ficar para as curiosidades do Pan, mas precisávamos medir a diferença que existe entre as duas equipes", sentenciou o técnico argentino, Gabriel Minadeo. Na verdade, foi uma anedota toda a partida entre Brasil e Argentina na primeira rodada do hóquei feminino no Pan.

A torcida parecia que estava vendo um outro jogo, vibrando mesmo com o massacre de 21 a 0 das "leonas" neste domingo. Ao final, as jogadoras do Brasil deram entrevista em um perfeito espanhol do Rio da Prata. Por seu lado, o auxiliar técnico brasileiro gritava instruções da tribuna, sendo ironizado pela torcida, que o atrapalhava.

Rodrigo Bertolotto/UOL
Garis drenam o gramado durante intervalo do jogo; ao fundo, jogadoras da Argentina
LEONAS MASSACRAM BRASILEIRAS
VEJA AS FOTOS
BRASIL TEM ALGUMA CHANCE?
Estrelas do país vizinho, medalhistas olímpicas e campeãs mundiais, as "leonas" foram alvo do humor carioca. "Fora mocréias" e "dá com o taco nessas cucarachas" eram os gritos mais ofensivos. "Vamos, gatitas" era um incentivo irônico.

Sobrou para as brasileiras também. "Vocês estão jogando peteca?", berrou um torcedor. Quando no intervalo entre os tempos (placar de 10 a 0), entraram as garis da Prefeitura para drenar o gramado sintético, veio grito: "Dá esses rodos para o Brasil ganhar delas."

Tanta brincadeira atrapalhava o auxiliar técnico do Brasil, Leonardo Lemos, que dava instruções no meio da torcida (no hóquei é proibido o técnico gritar na beira do gramado). Ele ouvia as recomendações por celular ("Alguma instrução, Dudu?", repetia a cada minuto) e repassava aos gritos para as atletas. Indicações como "finge que não entendeu a juíza", "gruda nela" e "bate no ombro dela" ou "não esquece a abertura".

Essa última instrução logo foi adotada pela torcida. "Nossa que abertura", gritavam os torcedores, se esbaldando com o esporte com forte apelo sexual pelas saias curtas, roupa colante e inclinações e poses para bater na bola que as atletas adotam.

No final de cada tempo (são dois de 35 minutos), a torcida brasileira fazia contagem regressiva para o massacre, fazendo festa no final, mesmo com as jogadoras nacionais saindo cabisbaixas do gramado. O coro de "vamos virar Brasil" seguiu a partida toda, mesmo sem a mínima chance de isso acontecer.

Os cinco argentinos, incluindo um bebê de colo, que estavam na arquibancada eram vaiados a cada manifestação. Eles, com motivo, entraram na onda.

"Estão afanando a Argentina", gritou um portenho, para um brasileiro retrucar: "com juiz ladrão, porrada é a solução". Sem entender nada, a juiza norte-americana corria só meio-campo, afinal, a partida parecia um treinamento de ataque (argentino) contra defesa (brasileira).

"Serviu como treino de finalizações", definiu bem a argentina Gabriela Aguirre. As brasileiras não conseguiam três passes seguidos, mostrando que a modalidade é a de estágio mais amador no Brasil entre os esportes presentes no Pan. O "sacode" só não foi recorde por as argentinas golearam por 28 a 0 as dominicanas no Pan de Santo Domingo, em 2003.

Autora de quatro gols neste domingo, chamada de a "Maradona do hóquei" e estrela de propagandas e programas no país vizinho, Luciana Aymar foi mais diplomática nas respostas para os brasileiros. Até elogiou o sol de rachar no subúrbio carioca de Deodoro. "Adoro o sol. Saímos com Buenos Aires toda nevada. Está bem melhor aqui"

A Argentina é a favoritíssima para a vaga olímpica, que é o prêmio para o vencedor do ouro pan-americano. A única seleção que pode oferecer alguma resistência é a dos Estados Unidos. Já as brasileiras desfrutam de seu primeiro Pan. Para elas é como uma excursão do colégio. Elas estão em todas as festas da Vila Pan-Americana e, ao final do jogo deste domingo, viraram tietes e tiraram fotos com as "leonas".

"Nossa, foi uma emoção. Ter 15 anos e poder jogar contra elas é demais", confessou Helena Betolaza, em português com sotaque, afinal, apesar de nascida em Manaus (AM) viveu toda a vida em Montevidéu, capital do Uruguai.

Em castelhano, Helena desembestou a falar com a imprensa argentina. "Ellas no sabian que era un palo de hóquei ocho meses atras", disse, explicando que muitas jogadoras do Brasil conheceram a modalidade em 2007. Mariana Bonifacino, outra "uruguaia" do Brasil (nascida em Porto Alegre e crescida em Montevidéu), também gastou o castellano na frente dos microfones. "Le robé una pelota a Gullo. Eso fué um sueño. Los nuestros son pequeños objetivos", disparou para falar que conseguira desarmar uma vez a artilheira rival.

Bem menos conformada, a goleira brasileira, Lisandra Oliveira, apesar dos 21 gols, foi a mais elogiada. "Ela defendeu bem. Tem futuro", destacou Aymar, ídolo da torcida e dos mais de 150 mil atletas federados nessa modalidade na Argentina. Sem passado e com um presente bem amador, o hóquei brasileiro só conta com o futuro mesmo.