UOL Esporte - Pan 2007
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13/07/2007 - 20h47

Esgrima estréia no Pan após cortes e imbróglio judicial

Paula Almeida
Em São Paulo

"Espero que agora vocês comecem a dar boas notícias sobre a esgrima brasileira". Foi esse o pedido, em tom de brincadeira, que Giocondo Cabral, chefe da equipe nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, fez ao UOL Esporte. A solicitação veio apenas dois dias antes da estréia do time na competição. Neste sábado, às 10h, Heitor Shimbo e João Souza começam a disputa individual do florete no Complexo Riocentro.

Souza, por sinal, é uma das esperanças brasileiras de medalha na esgrima do Pan, ao lado de Renzo Agresta. O primeiro é o 22º colocado no ranking mundial de florete. Agresta, por sua vez, é o 39º melhor do mundo no sabre. Não por acaso, os dois atletas mudaram-se para a Europa com o intuito de treinar fortemente para o Pan.

Mas a preocupação de Giocondo Cabral tem fundamento. No mês que antecedeu a competição no Rio, a esgrima do país apareceu nos noticiários diversas vezes, mas não por bons motivos: dois cortes e um polêmico critério de convocação.

A equipe brasileira da esgrima vai ao Pan com um objetivo nada fácil: encerrar o jejum de 32 anos sem medalhas na modalidade. A última conquista foi em 1975, com o bronze por equipes obtido por Arthur Cramer, Frederico Alencar, Ronaldo Schwantes e Francisco Buonafina.

Entre as mulheres, então, a missão é ainda mais ingrata. A esgrima faz parte do rol de esportes Pan-Americanos desde a primeira edição dos Jogos, em 1951, na Argentina, e nunca as brasileiras chegaram ao pódio na modalidade.

Ao todo, o Brasil conquistou apenas quatro medalhas na esgrima em Pans. Em Buenos Aires, na primeira edição, Estevão Molnar conseguiu dois bronzes. O primeiro deles no sabre individual e o segundo por equipe, ao lado de Frederico Serrao, Matt Hugler e Damásio Sá Virgílio.

Depois, em 1963, em São Paulo, novamente a medalha veio em conjunto. Dessa vez, foi uma prata, com Aloysio Alves, Arthur Telles, José Pereira e Carlos Couto. O último bronze foi o de 1975.
32 ANOS SEM MEDALHAS
HORÁRIOS DA ESGRIMA NO PAN
OS BRASILEIROS NO RIO
O Brasil chega às disputas da modalidade com 14 atletas. Inicialmente, eram 15. Lívia Lanzoni sofreu um acidente de moto, teve uma fratura no joelho e foi cortada da equipe. Substituta? Nenhuma. A atleta não tinha reservas, e, com isso, o sabre nas competições femininas será empunhado apenas por uma brasileira, Deise Falci.

Entre os homens, o corte ocorreu de maneira dramática. Em pleno treino, já no Rio de Janeiro, Athos Schwanger feriu o irmão Ivan, que sofreu uma perfuração no pulmão e perdeu a chance de disputar seu primeiro Pan. Para Athos, que já competiu em Santo Domingo, em 2003, restou a missão, imposta por ele mesmo, de conquistar uma medalha em nome do irmão mais velho na prova de espada.

O lugar de Ivan Schwanger teve de ser ocupado de última hora. O escolhido foi Patrício Runnacles, um argentino que chegou ao Brasil com 1 ano de idade. Derrotado por Schwanger por apenas um toque na última seletiva nacional, o esgrimista, que já havia tentado, sem sucesso, ir aos Pans de Mar del Plata (1987) e Santo Domingo, enfim poderá realizar o sonho de defender o Brasil na competição continental.

Mas nenhum dos cortes tomou maior proporção do que o polêmico critério de testes físicos aplicado pela Confederação Brasileira de Esgrima (CBE). Segundo o regulamento de convocação da entidade, cada atleta deveria correr, em até 12 minutos, um percurso de 3.000 m (para os homens) e 2.600 m (para as mulheres).

Dentro da equipe, há um consenso entre os atletas de que o critério da 'corrida', como eles o apelidaram, é injusto. A maioria dos esgrimistas, porém, prefere não elevar o tom na discussão para não sofrer represálias. "A preparação física contribui, é é essencial. Mas temos vários exemplos de outros atletas do mundo inteiro que não tiveram de passar por esse teste", comenta Patrício Runnacles.

Pelo polêmico critério, o veterano Roberto Lazzarini ficou de fora da seleção. Ele entrou na justiça, contando com o aval de especialistas em medicina esportiva, para garantir uma vaga no Pan. O imbróglio judicial terminou nesta semana, e Lazzarini não conseguiu vencer a CBE. Melhor para Fernando Linschoten, que será o único estreante em Pans entre os homens da esgrima.

O novato, porém, começa sua participação apenas no dia 16, com a espada. Antes disso, já neste sábado, Heitor Shimbo e João Souza, remanescentes da equipe que conquistou o quarto lugar por equipes em Santo Domingo, iniciam sua campanha no florete.

Os países do continente americano ainda têm pouca tradição mundial na esgrima. Cuba e Estados Unidos chegam, mais uma vez, com o maior número de atletas favoritos na modalidade. Canadá e Venezuela, porém, deverão oferecer trabalho aos atletas brasileiros.