UOL Esporte - Pan 2007
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06/07/2007 - 09h42

Com treinos solitários, atletas do softbol se bancam para o Pan

Antoine Morel
Em São Paulo

Se o rótulo de musas do Pan foi designado às meninas do softbol, um outro também poderia ser sugerido. O de "esforçadas do Pan". Dedicadas, elas chegam aos Jogos com treinos tipicamente de um esporte amador.

O time, inclusive, dificilmente consegue treinar todo junto. Apenas no final de semana. Tudo porque seis delas moram fora de São Paulo - local dos treinamentos da seleção. Duas são profissionais no Japão e só se juntam ao grupo na semana de estréia da competição. As outras quatro estudam em faculdades no interior do Estado paulista.

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Além de musas, meninas do softbol bancam do próprio bolso para os treinos e viagens
"ESQUECIDAS" SÃO INCLUÍDAS
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Estas são as que mais sofrem. Maria Elisa, a Mary - como é conhecida -, de 20 anos, estuda Educação Física em Rio Claro e só pode se juntar ao time nos finais de semana em São Paulo. "Durante a semana faço condicionamento físico. As rebatidas, eu treino, às vezes, em frente ao espelho. Mas acho que não tem diferença em relação às outras meninas porque estou há muito tempo treinando já", explica.

Os treinos da seleção são feitos três vezes durante a semana e mais um no sábado e domingo de manhã. O estresse de ir e voltar da capital paulista para Maringá, sua terra natal, fez Tathiane Mizawa, de 18 anos, mudar para São Paulo em troca de sossego. "Eu estava fazendo cursinho, mas meio que abandonei. Não estava dando conta. Pegava o ônibus na sexta à noite, às 22hs. A viagem dura nove horas. Chegava de madrugada e o treino era às 8h da manhã de sábado", lembra.

Aos 23, Nilze Higa, arremessadora da equipe, também se aventura nas estradas para treinar. Estudando Engenharia de Alimentos em Pirassunga, ela encara aproximadamente 200 km para ir à capital. "É ruim porque é difícil treinar sozinha. Eu ando de bicicleta, vou para academia e tento fazer exercícios no apartamento. Para arremessar, vou no campo de futebol da faculdade", conta.

Camila Ariki, 23, completa o grupo das "forasteiras". Depois de conciliar um cursinho para Medicina e os treinos, ela agora mora em Botucatu (230 km de São Paulo) para fazer a faculdade. Mas, ressalta, que depois do Pan, o ritmo deve diminuir. "Olha, acho que a maioria vai dar uma maneirada. Tenho umas que gosto tanto que vão continuar", afirma.

A capitã do time, Márcia Mizushima - a mais velha, com 28 anos - sintetiza o esforço tantas das "estrangeiras" quanto as das paulistanas que vão aos treinos com o próprio dinheiro e pagam a academia para ficarem em forma. "Nossa vida é de atleta de amador. A gente não tem descanso. Uma atleta profissional tem descanso. É uma coisa que não tem [no esporte amador]", relata.

Marcinha, como é apelidada, tem o exemplo próprio para contar. Trabalha na empresa do marido, entra de manhã, mas sai ao meio-dia para dar almoço à filha de seis anos e levá-la na escola. Na volta, termina o expediente e vai treinar à noite.

O presidente da Confederação Brasileira do esporte, Jorge Otsuka, explica que o orçamento feito para as verbas da Lei Piva - provenientes do Comitê Olímpico Brasileiro - não previam o deslocamento das jogadoras para treino. "Fizemos um orçamento para as viagens internacionais, como a que foi feita para os amistosos na Argentina. O bacana é a força das meninas. Só isso é uma vitória", diz.