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06/07/2007 - 08h33

Patinação de velocidade do Brasil encara Pan pela 1º vez

Mariana Franceschinelli
Em São Paulo

Eles só têm uma pista para treinar em todo o país, mas fica distante dos grandes centros. A solução foi driblar buracos, pessoas e carros para conseguir realizar treinos, improvisados no estacionamento no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Como se fosse pouco, os atletas da seleção brasileira também penam com a roupa e o capacete usados, motivo de piada entre amigos e desconhecidos.

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"Família" Riveros tem a oportunidade de encarar pela primeira vez um Pan
Fernanda Bambrilla/UOL
No Parque do Ibirapuera, em São Paulo, seleção dribla buracos, pessoas e carros
Divulgação
Douglas, Thalita, Eliete e Rafael são os pioneiros da patinação do Brasil no Pan
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Por ser país sede do Pan, o Brasil tem o direito de levar uma seleção completa, que será composta por quatro patinadores. Mas isso não significa chance de conquistar uma medalha. Aliás, os brasileiros devem passar bem longe de um pódio na patinação de velocidade, já que a modalidade dificilmente dá chance a "zebras".

Potência neste esporte, os Estados Unidos estão nos Jogos Pan-Americanos desde San Juan-1979, e dominam o quadro geral de medalhas. São 71 ouros, 30 pratas e 24 bronzes. Em seguida, a seleção argentina, com 73 medalhas no geral, e a Colômbia, com 38 pódios em Pan-Americanos. Só mais quatro países, dos 42 que estarão representados no Rio, conquistaram medalhas na modalidade: Chile, Costa Rica, Equador e Costa Rica.

A técnica brasileira passa longe da eficiência e do profissionalismo dos adversários. Mesmo assim, a patinação de velocidade brasileira vai "enfrentar" um Pan-Americano pela primeira vez.

Em 2006, para amenizar um possível vexame nos Jogos, a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) resolveu investir, pelo menos até agosto, no esporte. A primeira iniciativa foi a contratação de um técnico para a modalidade. Sem nenhum especialista nacional, já que o país tem na patinação uma opção de lazer aos finais de semana, a solução foi recorrer ao colombiano Ramiro Riveros.

Formado em Educação Física pela Universidade de Caldas, na Colômbia, atua há dez anos como treinador de patinação de velocidade. Como atleta, foi campeão em todas as categorias nacionais e regionais. E como técnico, é conhecido no país por ser o grande formador de atletas colombianos da seleção. Sua missão? Ensinar aos brasileiros a patinação de velocidade.

Em 2005, Rivero chegou ao Brasil a convite do vice-presidente da CBHP, Geraldo Amaral, que analisou seu currículo e suas referências. Foi aí que o Brasil começou a desenvolver o esporte. Tudo por causa do Pan.

"A primeira impressão foi que teria muito trabalho a fazer, mas que seria ótimo deixar meus conhecimentos nessa terra maravilhosa, onde se tem um potencial impressionante para a patinação de velocidade", analisou Riveros, que considera os atletas do Brasil talentosos, apesar da pouca técnica.

Para o colombiano, os brasileiros têm um biotipo ótimo para a patinação de velocidade. "O ponto fraco é que precisavam de mais técnica e muito trabalho de base. O ponto forte é que têm muita garra e isso fará com que, num futuro próximo, eles estejam no lugar mais alto do pódio mundial", comenta o esperançoso treinador.

Logo após o Pan, os brasileiros da patinação de velocidade disputam o Mundial da modalidade, em agosto, na Colômbia. Os atletas têm o receio de que Ramiro Riveros, técnico contratado pela Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) deixe o país após a competição.

Para o experiente Rafael Romano, isso pode acontecer, já que que a CBHP estaria deixando de lado a patinação de velocidade, dando prioridade ao Hóquei. "Tudo depende da Confederação. Ele é fundamental, o trabalho não poderia terminar aqui. Ainda está na metade. Mas tem que ver se terá caixa, se vão poder bancá-lo depois do Pan", indaga o atleta.

"Precisamos lutar com unhas e dentes, mais do que se possa imaginar, para conseguir o que o esporte precisa. Acho que a patinação de velocidade, a artística e o hóquei deveriam ter diferentes dirigentes. Assim é complicado", desabafa Romano.
E DEPOIS DO PAN?
PATINS NO ESTACIONAMENTO
Contrariando as probabilidades, as altas expectativas contaminam os estreantes. Thalita Arroyo, que vai ao Pan, acredita que Riveros foi um marco da patinação de velocidade para o Brasil. "Agora entendemos a patinação de velocidade como forma de treinamento. Ele é fantástico. Está fazendo um trabalho muito bom", comenta a atleta, que é formada em Marketing, mas abriu mão da profissão para se dedicar ao Pan.

O mais experiente da seleção brasileira, Rafael Romano, também comenta sobre os benefícios da "era Ramiro". "Ele transformou patinadores em atletas. A principal mudança foi dos próprios atletas, na forma de encarar o esporte. Ele serviu para mudar a cabeça de todos, e está provando isso atreves de resultados. Ele é muito bom como técnico e como todas as outras funções, que por falta de estrutura da Confederação, precisa exercer: fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista...".

Para preparar a seleção para o Pan, os atletas fizeram um intercâmbio de dois meses no país de Rivero, uma das grandes potências da modalidade. "O período de treinamentos na Colômbia foi muito importante para o crescimento dos patinadores brasileiros. Lá, eles tiveram a oportunidade de treinar com campeões mundiais e ganharam mais experiência internacional", comenta Ramiro. "A prova disso é que o desempenho dos atletas evoluiu muito em relação ao ano anterior, os tempos e principalmente as atitudes estão melhores. Só no Campeonato Brasileiro foram batidos três recordes de pista", disse o treinador.

Mesmo com a preparação, o sonho de medalha está distante. "Eu sempre falo que podemos sonhar, mas tenho que ter pé no chão. É a primeira vez da patinação do Brasil no Pan, vamos para divulgar a modalidade. Em um ano de treinos podemos dizer que nos tornamos profissionais, mas não campeões", desabafa Thalita.