UOL Esporte - Pan 2007
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03/07/2007 - 09h30

Trampolim dá estrutura a homens, mas esquece mulheres

Giancarlo Giampietro
Em São Paulo

Oito anos depois da integração do trampolim acrobático à CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), o Brasil dá seus primeiros passos rumo à competitividade. Mas esse cenário ainda se limita à seleção masculina. Entre as mulheres, não há um grupo permanente no QG da modalidade, em Curitiba.

Crédito
Rafael Andrade faz salto em trampolim europeu providenciado pela CBG há 2 anos
Assim como ocorre nas ginásticas artística e rítmica, a entidade sustenta na capital paranaense uma equipe do trampolim em tempo integral, mas apenas com os homens, equipe reunida desde 2005. Nesse mesmo ano foi criado o time feminino, que seria, porém, desativado logo no início da temporada seguinte. O trabalho dos homens segue ininterrupto, com aparelhos de padrão internacional. Aos poucos, os resultados vão aparecendo.

Os atletas da seleção retornaram neste fim de semana de uma viagem à Europa para a participação em duas etapas da Copa do Mundo, na Bélgica e Bulgária. Na primeira, os convocados para o Pan, Rafael Andrade e Celso Ramirez ficaram respectivamente com as 20º e 23ª posições. São mais muitos postos afastados do pódio, mas também com uma boa distância o 68º lugar obtido por Hélio Coutinho no Mundial de Hannover em 2003, que foi a melhor colocação brasileira no evento que também servia como pré-olímpico.

"Eles estão bem preparados. Fizemos um bom trabalho para o Pan, e os resultados nessas etapas foram acima do que esperávamos", afirma Edmara Colombo, coordenadora técnica de trampolim da CBG.

Os atletas e os outros integrantes da seleção trabalham em dois períodos em Curitiba, dividindo ginásio com a ginástica rítmica. Nessa arena, estão os únicos cinco trampolins de fabricação européia dentro de fronteiras brasileiras. Uma realidade que estava distante de Giovanna Bastos, a representante do time feminino no Pan.

A carioca agora tem de apressar sua preparação. Ela só recebeu um trampolim de primeiro nível há dois meses (cedido pela CBG), quando ainda não estava nem liberada dos deveres escolares para treinar em dois períodos.

"Foi ótimo o aparelho ter chegado, os treinos dela melhoraram bastante. Ajuda em tudo. Poder dar saltos mais altos... O equipamento é totalmente diferente. O produto que a gente tem aqui não poderia nem receber um Mundial", afirma Tatiana Figueiredo, técnica da atleta, que ficou em 19º e 25º nas etapas de Bulgária e Bélgica.

Tatiana poupou a CBG de críticas pela ausência de uma seleção feminina permanente, depois da dissolução da equipe há dois anos, quando as três integrantes de então se desligaram do esporte. Ana Paula Teixeira e Ana Carolina Milazzo não mostraram interesse em continuar e Ana Paula Milazzo parou após um acidente de carro.

"Esses projetos de seleção permanente só cabem a eles. Lógico que a estrutura que os meninos têm é infinitamente melhor que a dos clubes. É preparo médico, fisioterapia, treinos por duas vezes ao dia, já que a CBG tem convênio com universidade e estrutura para ajudar nos estudos. O masculino melhorou bastante desde a reunião em Curitiba", disse.

A confederação afirma que o Brasil ainda não possui uma geração que esteja pronta para competições em tempo integral. "A gente tem uma geração de meninas muito boas subindo -é muito cedo, garotas de 15 anos ou menos. No trampolim, o mínimo é de 17 anos para os Mundiais, enquanto a média das adversárias é de 25", afirma Edmara Colombo.

Dessa forma, a seleção feminina ainda se vê em um contexto esportivo que remete aos tempos conturbados do início da década. Foi em 1999 que as confederações nacionais de trampolim tiveram de ser assimiladas pelas de ginástica, em determinação do COI (Comitê Olímpico Internacional). O Brasil ficou fora das Olimpíadas de Sydney-2000 e Atenas-2004.

Às vésperas dos últimos Jogos Olímpicos de verão, dirigentes ligados ao trampolim acusavam a CBG de descaso com o esporte e de centralização do poder. Por parte dos atletas, ficava a reclamação pela precariedade dos materiais usados no país, bem diferentes dos de nível internacional. "É como se você dirigisse um fusquinha todo ferrado, todos os dias, e pegasse uma Ferrari automática para dar um passeio", constatara Carlos Ramirez, um dos convocados do Pan.

Agora, em sua primeira edição como parte do calendário do Pan, Ramirez e Andrade já se sentem confortáveis em falar em disputa por medalha. Canadá e Estados Unidos, com dois atletas cada, são os principais adversários apontados pelos atletas.

"Estamos mais fortes e mostramos na Europa que temos chance. A gente se destacou, mostrando mais regularidade, com elementos de dificuldade alta", afirma Ramirez. "A intenção é ficar entre os três primeiros. O Brasil está bem perto", diz Andrade.

Apesar da desigualdade nas condições de preparação em relação aos homens, Giovanna se vê com os mesmos adversários - Canadá e Estados Unidos. "Vai depender muito da competição. Ela leva a vantagem de competir em casa. Mas vai ser difícil", completa Tatiana Figueiredo.