UOL Esporte - Pan 2007
UOL BUSCA

02/07/2007 - 09h41

Longe de se tornar olímpico, caratê tem bons resultados no Brasil

Felipe Mendes
Em São Paulo

Luta, boxe, judô, taekwondo e caratê. Todos são esportes de combate e todos estão presentes nos Jogos Pan-Americanos. Mas entre as cinco modalidades que funcionam na base da porrada, apenas uma não conseguiu entrar na lista de esportes olímpicos: o caratê

Arquivo Folha
Modalidade luta para se tornar olímpica, mas ainda há obstáculos a serem vencidos
Todas as outras já puderam ver seus atletas competindo no maior evento esportivo do mundo. A entrada da luta se confunde com o nascimento da Olimpíada, em 1896, em que a modalidade já estava presente. O boxe se firmou como esporte olímpico na edição de 1920, na Antuérpia (Bélgica). O judô entrou em Tóquio-1964 e o taekwondo foi aceito em Sydney-2000. Resta o caratê, que também tardou na sua entrada no Pan, apenas em 1995, em Mar Del Plata (Argentina).

O motivo que dificulta a entrada do esporte no hall olímpico é a superlotação. Por uma determinação do COI, para uma modalidade entrar na Olimpíada, outra deve sair. Caso contrário, a logística do evento, que quer evitar o gigantismo, ficaria prejudicada.

E não foi por falta de tentativa que o esporte acabou ficando para escanteio. No início de julho de 2005, os caratecas até tiveram o gostinho de, por algumas horas, afirmar que praticavam um esporte olímpico.

Isso porque, em 2005, o Comitê Olímpico Internacional organizou uma reunião para discutir a inclusão de novas modalidades nos Jogos Olímpicos de 2012. Entre a imensa lista dos pretendentes estavam o rúgbi, o golfe, a patinação, o caratê e o squash. Restaram apenas os dois últimos.

Foi, então, realizada uma votação para decidir qual esporte sairia para dar lugar aos novos. Os escolhidos foram o beisebol e o softbol, que acabaram sendo excluídos do evento em 2012.

"Deu-se por certa a entrada do caratê e do squash nos Jogos Olímpicos, e o presidente do COI começou a reunião dando boas vindas aos novos esportes", conta Wladimir Romich, diretor técnico da Confederação Brasileira de caratê.

ELAS SÃO BI E PODEM SER TRI
Arquivo Folha
Lucélia Ribeiro:
Ouro no caratê em Winnipeg/1999 e Santo Domingo/2003
Arquivo Folha
Joana Cortez:
Ouro no tênis em Winnipeg/1999 e Santo Domingo/2003
PÁGINA ESPECIAL DE CARATÊ
PÁGINA ESPECIAL DE ATLETISMO
PÁGINA ESPECIAL DE TÊNIS
Mas não foi assim que aconteceu. Isso porque, em uma manobra burocrática levantou-se a questão de que teria que haver uma votação dos membros da entidade para validar a entrada dos esportes. "Foi feito um lobby, e o caratê perdeu por apenas dois votos, enquanto o squash perdeu por seis votos", conta.

Com o caratê colocado de lado no mundo olímpico quem acaba saindo prejudicado são os próprios atletas: "Se o caratê fosse um esporte olímpico, teríamos mais verba do governo para disputar o circuito europeu", afirma Romich.

Entretanto, o curioso é que entre estas modalidades o caratê é que possui a atleta com melhores resultados no Pan: Lucélia de Carvalho. A carateca, que começou a praticar o esporte dos chutes e socos para fugir das aulas de dança, tem aproveitamento de 100%, ou seja, conquistou dois ouros nas duas únicas participações em Pan.

Seu feito quase é igualado pela judoca Edinanci, que conquistou dois ouros em três participações de Pan. As duas figuram em um seleto grupo de atletas que podem ser tricampeãs no Pan de 2007. As outras cotadas são a tenista Joana Cortez e a pesista Elisângela Adriano.

E para Romich, a terceira medalha tem muitas chances de se tornar realidade: "Ela está em um nível acima de qualquer outra brasileira. Tem tudo para ser tricampeã", afirma. Como manda os costumes do bom alteta, Lucélia se mantém humilde em relação às companheiras: "A seleção brasileira feminina é praticamente do mesmo nível". Mesmo assim ela acredita em mais um ouro: "Estou treinando muito para que isso possa acontecer".

Além de estar no grupo das possíveis tricampeãs, Lucélia tem a vantagem de não sofrer tanto com os problemas financeiros. Com uma carreira consolidada, ela já conta com patrocinadores, mas concorda que a inclusão do esporte como modalidade olímpica ajudaria os demais atletas do caratê: "Não temos tanta exposição na mídia e acaba faltando um apoio para toda a equipe poder viajar", conta. Ela ainda afirma que, geralmente, as viagens para campeonatos fora do país devem ser pagas do próprio bolso. "Este ano o COB pagou as viagens, mas normalmente quem paga é o atleta", revela.

E a projeção é que os caratecas continuem pagando a conta por algum tempo. Um processo corre para que o COI reconsidere a ação de dar boas vindas aos novos esportes. Porém, por enquanto, os caratecas terão que se contentar com o Pan.