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02/07/2007 - 10h03

Pouco divulgado no país, badminton desenvolve projetos sociais

Mariana Franceschinelli
Em São Paulo

Foi na decepção de não ter seu filho convocado para os Jogos Pan-Americanos, que Nadie Braga, mãe do atleta Aroldo Braga, integrante da seleção brasileira permanente de badminton, resolveu desenvolver um projeto social para crianças carentes. Em novembro de 2006, após sair a pré-convocação para o Pan do Rio, ela resolveu fazer da desilusão uma forma de estímulo para incentivar o esporte.

PROJETOS SOCIAIS
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No Estado de São Paulo, o projeto social está dando os primeiros passos
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No RS, as crianças organizaram a torcida Pan-Badminton para Thaysse
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Piauí optou por distribuir revistas em quadrinhos sobre o badminton
"No bairro onde eu moro, na zona Sul de São Paulo, não existia nenhuma atividade de lazer para crianças menos favorecidas", explica a aposentada. "Eles ficavam direto na rua, que é bem ao lado da minha casa. Jogavam bola, empinavam pipa e brigavam", conta.

Para mostrar que existe mais que o futebol, Nadie resolveu emprestar raquetes em desuso para ensinar às crianças o badminton. "Eles pegaram gosto e queriam sempre mais. Então fomos procurar um local adequado", explica. E a procura por este lugar deu certo. Hoje o projeto é desenvolvido em uma quadra próxima ao Brooklin, que é sede do grupo de escoteiros locais. Porém, devido a outras atividades, o badminton só pode ser desenvolvido aos domingos pela manhã.

Para ajudar as crianças e não desestimular futuros atletas, todo mês é feito um sorteio de uma raquete para os participantes. "Eles também ganham lanche", conta Nadie. A próxima etapa do projeto é buscar uma parceria para que eles tenham calçados para poderem continuar no esporte, já que a maior parte dos 30 participantes não tem um tênis para usar.

Nadie Braga também destacou a participação dos atletas da Confederação Paulista de Badminton (CPB) no projeto, e já almeja para o futuro a participação dos garotos em competições oficiais."Como temos mais proximidade com o pessoal do CPB, solicitamos o voluntariado. Alguns se prontificaram a vir para dar aulas para eles", explica.

"Também já fizemos um contato com o Gori (Manoel Gori - presidente da FEBASP - Federação de Badminton do Estado de São Paulo) para uma exibição para que assim eles possam ver como é um jogo para valer. Além disso, este ano pretendemos levá-los para participar de algumas competições", finaliza.

E se em São Paulo o projeto está dando seus primeiros passos, em Porto Alegre um outro projeto social está consolidado. Em 2000, a professora Vera Mastrascusa, da Escola Estadual Paraíba de Porto Alegre, sugeriu à diretora que fosse implantado o badminton no colégio. O pedido da educadora, que na época era presidente da Federação Gaúcha de Badminton (FGBa), foi atendido. Hoje, 150 crianças podem praticar a modalidade na escola.

"A FGBa empresta o material e a escola entra com o ginásio de esporte e com as aulas", explica Vera, que hoje é também diretora técnica da Confederação Brasileira de Badminton (CBBa). "E o que mudou na vida destas crianças? Mudou muito! Elas têm uma outra visão do mundo, uma forma de adquirir mais cultura", comenta a técnica.

Muitas crianças do projeto puderam viajar para outros estados, como São Paulo e o Rio de Janeiro. Outras tiveram a oportunidade de participar de campeonatos no Equador e no Peru. "Dificilmente estas crianças teriam oportunidades assim", explica Vera.

E a maior prova de sucesso deste projeto é a atleta da seleção brasileira que está convocada para o Pan, Thayse Cruz. "Ela começou em 2001, em função da turma que estava. Logo no primeiro dia notei que tinha talento", explica Vera. "No primeiro dia chamei para participar de um treino mais específico, e ela foi crescendo dentro de esporte".

Logo, a atleta começou a treinar e participar de diversas competições, obtendo bons resultados. Conquistou a vaga para os Jogos do Rio em uma seletiva realizada em março deste ano. No Pan, Thayse sonha com uma medalha, mas sabe das dificuldades. "Quero uma medalha, mas sei que não é tão fácil. Jogar bem já está muito bom", explica a jogadora, que teve a vida mudada por causa do esporte. "Eu não teria a oportunidade de viajar, de conhecer outros países, se não fosse este projeto", comenta.

RIO DE JANEIRO
Folha Imagem
O badminton teve destaque no Brasil em 2005 por causa de um projeto desenvolvido no Rio de Janeiro. O clube Miratus, que faz um intenso trabalho de inclusão social na Favela do Chacrinha, localizada em Jacarepaguá, revelou a carioca Renata Faustino.

Naquele ano, a jovem foi eleita a melhor jogadora da modalidade pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Descoberta pelo técnico Sebastião Oliveira, Renata venceu limitações físicas e dificuldades financeiras para se tornar campeã brasileira e uma das mais consistentes promessas da modalidade.

Quando ela começou a jogar teve que enfrentar a desconfiança da mãe que, por causa da deficiência auditiva da menina, dizia que ela não servia para o esporte. "Conversei com ela e pedi para que desse uma chance para a filha mostrar do que era capaz. Com uma semana de treino, percebi que ela seria uma das melhores desta modalidade no Brasil", comenta Sebastião.
Com a convocação de Thayse para o Pan, os alunos estão ainda mais animados com o esporte. Para dar uma força para a ex-aluna e a professora, o colégio organizou a Torcida Pan-Badminton. As quatro atletas que integram a seleção brasileira convocada para os Jogos do Rio fizeram, em maio, uma apresentação nas dependências do colégio, algo que deixou todos muito animados. Os alunos fizeram cartazes, enfeitarem o ginásio com balões, confetes, e ficaram na arquibancada assistindo aos jogos demonstrativos com apitos e cornetas. "Todos estão muito animados. Este ano cresceu muito a procura pelo esporte. Não temos mais vagas", explica Vera.

Para tentar popularizar o esporte, o presidente da Federação de Badminton do Piauí (Febapi), Francisco Ferraz, também desenvolveu um projeto. Diferente dos sociais implantados em São Paulo e no Rio Grande do Sul, ele lançou, em 2006, uma revista em quadrinhos para seduzir crianças e adolescentes a entrar em uma modalidade que é desconhecida de grande parte do público.

Como modelo, usou dois atletas conhecidos no esporte: Guilherme Kumasaka e Patrícia Oelke, que competiram nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003, na República Dominicana. "Achei engraçado", revela Kumasaka sobre a própria caricatura.

"O badminton é um esporte que está começando (no Brasil), tem algumas dificuldades, precisa de mais e mais divulgação", completa um dos principais atletas da modalidade no país. Kumasaka irá participar dos Jogos Pan-Americanos do Rio e, se o badminton tem a esperança de conquistar a primeira medalha brasileira da história, ele é o mais forte candidato.

Outro projeto desenvolvido pela Febapi foi a implantação do Talentos Internos para o badminton, que leva o esporte para dentro de Casas de Detenção do Piauí, atendendo hoje cerca de 100 jovens. De acordo com o presidente da Febapi, a idéia para desenvolver o projeto partiu da necessidade dos internos em desenvolverem atividades recreativas e educacionais para preencher toda grade disciplinar.

Outro motivo pela escolha do badminton foi por se tratar de uma modalidade esportiva diferente e que não tem contato físico, evitando assim brigas. "Antes do badminton só existia o futsal, vôlei, futebol e basquete. Os adolescentes não aceitavam muito a idéia de colocarmos um esporte que fosse diferente do que eles estavam acostumados a praticar e que não fosse com bola. A primeira aula demonstrativa, no entanto, deixou os meninos entusiasmados e motivou-os a praticar com interesse a nova modalidade", comentou Ferraz.

Inicialmente o projeto está sendo desenvolvido no Centro Educacional Masculino (CEM) e também no Centro de Internação Provisória (CEIP), porém Francisco Ferraz já adianta que o projeto será implantado também em outras unidades. "Recebemos o apoio da Secretaria de Assistência Social e Cidadania e também da Unidade de Assistência Sócio-Educativa de Teresina e em breve estaremos levando o projeto para outras duas Casas de Detenção, sendo uma delas exclusiva de meninas", finaliza.

A Confederação Brasileira de Badminton mantém um total de nove núcleos de desenvolvimento da modalidade. Além dos locais já citados, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais e Paraná possuem projetos sociais ligados ao esporte e locais para se praticar o badminton. O papel da CBBa é o fornecimento de material e ajuda de custo para os professores. Em todos estes projetos, é feira a busca por novos talentos do badminton. Cada núcleo faz o desenvolvimento do esporte da maneira que acha melhor.