UOL Esporte - Pan 2007
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29/06/2007 - 09h15

Indigesto, beisebol brasileiro leva rivalidades ao Rio

Giancarlo Giampietro
Em São Paulo

Os tempos de saco de pancadas estão distantes, e o beisebol brasileiro se tornou um adversário indigesto nas Américas. O time tem seu poderio firmado no âmbito regional, como campeão sul-americano, e já se tornou obstáculo relevante contra adversários de maior tradição. Com direito a uma crescente rivalidade com a grande potência amadora do continente, Cuba.

O último confronto com os prediletos de Fidel Castro foi dominado por muita catimba e provocações. Em maio deste ano, nos Jogos da Alba (Alternativa Bolivariana para a América), espécie de Pan promovido pelo venezuelano Hugo Chávez, o Brasil perdeu por 3 a 2 em duelo acirrado no mais recente capítulo de uma história que vem se desenvolvendo de modo hostil.

CUBA: POTÊNCIA E RIVAL
Reuters
Arremessador brasileiro Kléber Ojima (d) é consolado depois da derrota para cubanos em 2003, que abriu tensão entre os países
Reuters
Cubano Eduardo Paret encontra brasileiro Reinaldo Sato no Mundial de 2003: os dois estão convocados para jogar o Pan no Rio
"Fomos para Cuba no ano passado para alguns amistosos, e houve tumulto. Foram jogos bem tensos", afirmou Celso Nakano, defensor externo de 31 anos, um dos mais experientes da seleção. Para os torcedores de Havana ficou a memória de um confronto eletrizante, no Mundial de 2003, quando os heróis locais triunfaram por 4 a 3, com uma virada apenas na última entrada. O jogo foi um marco na relação das duas equipes.

"O nível técnico do Brasil não era tão bom. O pessoal de Cuba nos via como amigos. Desde o momento que começamos a crescer, não ficou mais assim. Quase ganhamos na casa deles. A partir daí, tudo mudou", afirmou o receptor Ricardo Hideki, 27.

Apenas no Mundial de 2005, na Holanda, que os cubanos venceram com facilidade e de modo enfático, por 11 a 1. Nem os amistosos escaparam do clima de nervosismo e iniciativas duvidosas de ambos os lados em campo.

E como se faz catimba no beisebol? Dois lances foram indicados pelos atletas com maior freqüência. O primeiro é o mais recorrente: o rebatedor que for eliminado em sua corrida em corrida pode erguer sua perna 'acidentalmente' ou aplicar uma rasteira ao se chocar com o lançador na base. A tática serve para retardar o rival e tentar salvar outro companheiro da desclassificação. Já o segundo tem é mais explícito: um arremessador pode carimbar o rebatedor com a bola. Claro que sem nenhuma intenção.

"Qualquer deslize pode ajudar a gente ou o adversário. Depende de quem estiver fazendo. Sou arremessador, e posso atirar a bola no corpo do rebatedor. Se ele pensar que for proposital, talvez possa ficar descontrolado. E isso poderia forçar alguns erros", disse Cláudio Yamada, 31.

"Todo time precisa estar muito concentrado em jogos desse nível. Então se tiver catimba ou algum erro da arbitragem, talvez isso possa valorizar a partida para nós. Há sempre muita pressão na arbitragem. Com certeza no Pan vai ser assim", continuou. "Estando dentro dos Jogos, fica com um sabor especial", completou Nakano, para quem todos esses lances fazem parte de uma "ética subentendida" no jogo.

Hideki também considera "natural" esse ambiente. "Todo mundo já sabe o que vai acontecer. Você toma e vai devolver. Depois vai pedir desculpa. Aí ninguém reclama mais até que acontece um novo 'auê'", contou. Até hoje, porém, as desavenças não resultaram em confrontação física entre as duas equipes.

OS FAVORITOS
Só o fato de Cuba conquistar todas as medalhas de ouro do beisebol dos Jogos Pan-Americanos desde 1971 já deixaria o país como o favorito a vencer mais uma vez. Entretanto, para garantir o primeiro lugar em 2007, o time inscreveu 13 atletas que foram campeões olímpicos em Atenas-2004 para competir entre os 20 que estarão no Rio de Janeiro, em julho.
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Esses embates com Cuba em específico, a quarta colocação no Pan de Santo Domingo, o melhor resultado da história no Mundial daquele ano (sétima colocação) e uma série de outros confrontos equilibrados contra países caribenhos elevaram o status dos brasileiros. Agora, em casa, a equipe coloca o pódio como objetivo no Rio.

Para se tornar competitiva, a modalidade precisou de um grande salto estrutural na última década. Apenas em 1999, antes da segunda edição dos Jogos em Winnipeg, que a seleção teve sua primeira temporada com tacos de madeira, o que era de praxe na elite. Antes, os jogadores trabalhavam com tacos de alumínio.

Do atual grupo, dois jogadores - Nakano e o defensor interno Ronaldo Ono - participaram do Pan de Mar del Plata-1995 e acompanharam de perto a evolução. "O time ficou muito mais experiente de lá para cá. Minha geração era a que estava assumindo a seleção adulta na Argentina. Até hoje o time mantém alguns daqueles elementos e depois cresceu muito com outros tantos", afirma.

O Brasil participou dos últimos dois Mundiais. Depois da sétima colocação em Havana-1993, caiu logo na primeira fase na Holanda em 2005, com apenas um triunfo.

Nesse mesmo ano, porém, a equipe usurpou a Venezuela do trono sul-americano com vitória apertada de 2 a 1. E uma outra vitória em cima do país no Pré-Olímpico de 2006 também acendeu uma fagulha de animosidade para este duelo. De volta aos Jogos da Alba, os venezuelanos, com o orgulho ferido, arrasaram a seleção por 18 a 1.

"Ganhamos deles na final de 2005. E em Cuba de novo. Nos Jogos da Alba, ficou um clima meio estranho. Agora sabem que a gente não vai simplesmente abrir espaço para eles e nos vêem como ameaça. O Brasil antes era um adversário tranqüilo", lembra Hideki.