UOL Esporte - Pan 2007
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26/06/2007 - 09h02

Luta quer deixar o estigma de ser "bloco do eu sozinho"

Fernanda Brambilla
Em São Paulo

Quando se fala em luta olímpica no Brasil, o único nome que ressoa com alguma notoriedade é o de Antoine Jaoude. Na modalidade, pouco expressiva no país, o atleta de origem libanesa ganhou os holofotes ao se classificar para Atenas-04, quebrando o jejum de 12 anos sem lutadores brasileiros na Olimpíada. No país, Jaoude se manteve invicto nos torneios nacionais por mais de uma década.

EQUIPE DE UM HOMEM SÓ
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Único medalhista em 1987, Leitão cogitou voltar a lutar em 92 por não ter sucessores
Folha Imagem
O "eu sozinho": atualmente é Jaoude, prata no Pan de 2003, único brasileiro em Atenas
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Para os Jogos do Rio, 18 atletas compõem a nova equipe brasileira de luta olímpica
Em Pan, a história não é diferente. Das únicas três medalhas do Brasil na competição, a última é dele, em Santo Domingo-2003, evitando que a delegação voltasse de mãos vazias. Uma exceção na história que os atletas pretendem mudar este ano.

"A gente não depende mais do Antoine", sentencia Roberto Leitão, treinador da seleção brasileira e diretor-técnico da CBLA (Confederação Brasileira de Lutas Associadas). "Antes, quando íamos para uma competição, o pensamento era o seguinte: se o sorteio for favorável, o Antoine tem chance de medalha. Agora, não".

Em Jogos Pan-Americanos, o Brasil está em nono lugar entre os 13 países que já medalharam as Américas, com três pratas (a primeira foi em Buenos Aires-51, com Antenor da Silva na categoria até 90 kg). Entretanto, o país é o único que não tem nenhuma medalha de bronze, diferentemente de todas as nações abaixo no quadro de medalhas, com ao menos 1 bronze cada. O quadro só evidencia um fato que marcou a luta nos últimos anos: a falta de uma equipe competitiva, que também trouxesse resultados, ainda que menores. Os feitos do Brasil são individuais.

Leitão está bem familiarizado com a rotina. O ex-lutador é o dono da segunda medalha do Brasil no Pan, em Indianápolis-87. "Era a mesma coisa. A expectativa era toda em cima dos meus resultados", lembra Leitão. "Quando eu parei, em 92, o Brasil ficou seis anos sem títulos internacionais. E eu senti que precisava voltar. Aí eu conheci o Antoine, e logo soube que ele seria um estouro. Ainda bem."

A partir de então, Jaoude passou a "responder" pela modalidade no país. Foram 12 títulos brasileiros, sem ameaças ou rivais à altura. Na primeira seletiva para o Pan, um aviso: Jaoude foi vencido por Renato Sobral, o Babalu, que se despediu da luta olímpica após o combate. Assim, deixou também a disputa pelo Pan, que terminaria confirmando Jaoude.

"Fizeram um alarde enorme, mas não definiu nada. O Babalu teria que vencer o Antoine mais umas três vezes pra tirar a vaga dele no Pan", minimizou Leitão. "Ele não deu a vaga de presente pro Antoine, isso é besteira. Mas ele nunca tinha vencido o Antoine antes na vida."

Coincidência ou não, as apostas para o ano são, finalmente, diversificadas. Numerosa, a delegação de luta levará ao Rio de Janeiro, além de Jaoude, outros 17 atletas que brigarão por medalhas. Em Santo Domingo-03, foram apenas seis. "É claro que a gente tem muita confiança no Antoine subir ao pódio, mas no mesmo nível estão o Rodrigo Artilheiro (-120kg, greco-romano) e Luis Fernandes (-96kg, greco-romano). Os dois têm grande chances de medalha. Não digo de ouro porque as disputas prometem ser equilibradas, principalmente no pesado", diz, e torce para quebrar mais um tabu, ainda mais antigo.

"A Zanza tem grandes chances de levar medalha de ouro", avalia o treinador. Zanza é Rosângela Conceição (-72kg), campeã pan-americana em 2005, prata em 2006. Uma das atletas mais veteranas da luta, Rosângela chegou a ir à Olimpíada de Atlanta-96 como judoca. Na seletiva para o Pan, Rosângela não deu chances à então favorita Aline Silva, vice-campeã Mundial Jr - a primeira medalha feminina na competição.

Agora está nas mãos de Zanza levar a primeira medalha feminina no Pan. "Estamos ganhando nosso espaço aos poucos. A luta feminina brasileira ainda tem muito a crescer", profecia a lutadora.

Em 2003, o primeiro candidato a substituir Jaoude no pódio despontava. Recém-chegado na luta olímpica, Artilheiro conseguiu uma vaga para Santo Domingo, onde ficou em quarto lugar. "O venezuelano era mais experiente do que eu", lembra Artilheiro. "Eu estava vindo do judô, e o pouco tempo de luta fez diferença. Agora, já são três anos a mais de dedicação à luta. Vou para levar uma medalha." Entre as mulheres, o quarto lugar também foi o máximo que elas conseguiram em 2003, com Juliana Borges (até 63 kg).

Para Jaoude, a sensação é de dever cumprido. "Não me vejo longe das lutas, mas logo vou ficar velho. É muito importante abrir as portas para mais gente", comenta o veterano, que evita falar em aposentadoria. "O que me mantém na luta é o sonho da medalha olímpica. Enquanto estiver bem, sigo tentando."