UOL Esporte - Pan 2007
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26/06/2007 - 08h05

Últimos medalhistas crêem que seguirá jejum de 32 anos na esgrima

Felipe Mendes
Em São Paulo

Era uma equipe formada, principalmente, por três esgrimistas estreantes e um experiente. A média de idade era baixa, 23 anos. No Pan da Cidade do México, em 1975, eles nem esperavam que fossem entrar na história da esgrima. Arthur Cramer, Frederico Alencar, Ronaldo Schwantes e Francisco Buonafina foram os últimos brasileiros a conquistar uma medalha pan-americana. E eles não imaginam que o jejum termine em 2007.

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Das três armas, apenas na espada é válido acertar qualquer parte do corpo do rival
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Não foi ouro, nem prata. O bronze foi conquistado na espada por equipe e em cima da seleção do Chile. Para Cramer, a conquista era mais uma da sua carreira. Ele já havia conquistado o ouro individual e a prata por equipes, em Winnipeg-1967. Mas para os outros três era tudo novidade. Schwantes se lembra do clima na Vila Olímpica e do gigante cubano que entrou para a história como um dos maiores nomes do boxe. "Vi o Teófilo Stevenson. Ele era muito grande", lembra

Mas, deixando as boas lembranças de lado, 32 anos depois da conquista, a primeira coisa que vem à cabeça de Schwantes quando pensa em 1975 é: "O encontro com Cuba", diz secamente.

Afinal foi para Cuba que os brasileiros perderam a vaga na final. Uma derrota com requintes de crueldade: foi por apenas um ponto que os brasileiros não chegaram às finais da competição.

Na equipe brasileira, um revés parecia separá-la da final: Frederico não tinha vencido nenhum confronto. "O Fred (Frederico Alencar) teve o azar de não vencer nenhum confronto. São coisas do esporte", conta Schwantes. O "azarado" Frederico lembra como foi e se justifica: "Estávamos preparados para enfrentar os Estados Unidos. Cuba foi uma surpresa não esperávamos a derrota".

Assim, a um confronto do final, o resultado das vitórias somava 8 a 7 para os cubanos, que na época treinavam na URSS. Se o Brasil ganhasse mais uma, empataria e venceria pelo critério de desempate da esgrima, o saldo de toques. Mas não foi dessa forma que a história se desenrolou.

Quem empunhava a espada no último minuto era Schwantes. Ele lembra do fatídico placar que não deu vaga para os brasileiros na final: "Foi 5 a 4 para ele. A derrota ficou entalada".

Abatidos pela derrota, a saída era tentar o bronze conta a equipe do Chile, eliminada pelos Estados Unidos. Com a seleção abatida, os primeiros confrontos não foram tão produtivos como se esperava. Mas os brasileiros foram melhorando no decorrer da prova e venceram os chilenos por 8 a 2.

GANHOU, MAS NÃO LEVOU
O bronze de 1975 ficou para o registro histórico como a última da esgrima no Brasil, mas, na verdade, houve outra. Foi no Pan de 1979, em que Ronaldo Schwantes e Francisco Buonafina também competiram. O Brasil disputou com a Argentina a medalha de bronze e perdeu.

"No dia seguinte saiu o resultado que eles estavam dopados", conta Buonafina. Mas já não havia esperanças de recuperar a medalha que lhes era de direito, mas ficaram em terceiro na competição (apesar de maioria dos compêndios históricos não registrarem a colocação). Na época foi uma pena para Schwantes, mas que hoje não faz a menor diferença: "A medalha é legal na hora, mas depois serve só como recordação. Fica guardada na gaveta".
Para Buonafina, o terceiro lugar teve gosto de primeiro: "O terceiro lugar é muito melhor do que o segundo, porque é uma vitória". Frederico, que acreditava piamente na conquista do ouro, não encara desta forma: "Para mim não foi uma glória, foi uma decepção".

Mesmo assim, ele é o único dos quatro atletas que guarda quase tudo que recebeu no México: "Além da medalha, tenho credencial da Vila Pan-Americana, recortes de jornal da época, um monte de outras coisas".

Com as lembranças da derrota colocadas de lado, ficou na memória de Bounafina a sensação de competir em um Pan: "Imagina você entrar no estádio Asteca, cinco anos depois de o Brasil se tricampeão, e pisar no gramado?".

Em tom de brincadeira ele também afirma que descobriu o porquê de os atletas usarem chapéus na abertura dos Jogos: "Eu não estava usando e quando começou a voar aquele monte de pombas, tomei uma 'pombada' na cabeça. Acho que me deu sorte porque saí com a medalha", brinca.

Mas a brincadeira acaba quando se fala na atual equipe brasileira e suas chances de medalha. Ronaldo, que tem dois filhos disputando o Pan, sabe das dificuldades que eles enfrentarão: "Vou estar torcendo por eles, mas será um dos mais difíceis de todos os tempos". Buonafina também acredita na manutenção do jejum: "Ah, vai demorar. A esgrima no Brasil involuiu, as confederações não estimulam os atletas", lamenta.