UOL Esporte - Pan 2007
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21/06/2007 - 09h06

Com preparação "medíocre", estrela do tiro minimiza chance no Pan

Fernanda Brambilla
Em São Paulo

"Medíocre". Essa é a resposta direta de Rodrigo Bastos, atirador de fossa olímpica medalha de prata em Santo Domingo-2003 (melhor resultado nacional na competição) e único brasileiro na Olimpíada de Atenas-04.

PROMESSAS VELHAS E NOVAS
COB
Bastos ganhou a atenção da mídia ao conquistar a medalha de prata em 2003
COB
Bronze em Santo Domingo, Janice Teixeira também é uma das cotadas para medalha
CBTE
Stênio Yamamoto, atirador de pistola, foi vice em etapa da Copa do Mundo (ALE)
"Nosso planejamento foi muito ruim. Foi uma falta de organização por parte da confederação e do COB, que deveria ter assumido essa responsabilidade", desabafou Bastos. "O tiro está totalmente desorganizado e, como sempre, quem paga o pato somos nós, os atiradores", completou.

A planilha de treinos do paranaense foi ainda mais restrita pela impossibilidade de abandonar seu consultório de dentista em Guarapuava para competições internacionais, e também pela falta de munição às vésperas do Pan. "A confederação tinha nos prometido uma boa quantidade de cartuchos, mas não entregou. Com isso, fui obrigado que diminuir o ritmo", conta o atirador, que ganhou atenção da mídia ao igualar o recorde olímpico em 2003 (124 em 125 pratos).

Questionado sobre as expectativas e as chances da delegação brasileira, Bastos diz que "tirou o peso das costas" e se retira da lista de prováveis pódios. "Não tive o apoio que me prometeram, então já não me sinto responsável por conquistar nada", sentenciou ele, que intensificou os treinos este mês para 3 vezes por semana.

"Temos que dar graças a Deus pelo Stênio Yamamoto (atirador de pistola livre) pelo vice-campeonato na etapa da Copa do Mundo de Munique, porque ele vai nos salvar", afirmou Bastos. "Não tem nem como comparar o preparo que tive para 2003. Foi muito aquém do que esperava."

Curiosamente, Bastos chegou a ser tachado de 'traidor' pelos colegas no ano passado por se opor a um boicote às competições oficiais. Na época, o racha entre os atletas só piorou o ambiente já pesado pela crise.

Na sede da CBTE, Frederico Costa, recém-empossado na presidência no fim de maio, ainda se situa após a crise de quase dois anos. Afastado pelos últimos 15 meses, devido a uma liminar imposta pelo chefe da antiga gestão Durval Guimarães, Costa foi investigado por uso impróprio das verbas da entidade, e liberado pela Justiça, que o colocou de volta até as próximas eleições.

TÉCNICOS TAMBÉM DIVERGEM
Os treinadores da seleção também se posicionaram de maneiras diferentes frente à crise da modalidade. O italiano Carlo Danna, demitido pela gestão anterior, foi procurado por alguns atletas de prato e concordou em dar treinos 'por fora'.

Já Marcos Olsen, ex-atirador e atual treinador de prato, considerou a baixa expectativa uma "desculpa prévia". "A arma é a mesma, os pratos vão na mesma velocidade, é tudo igual, independente de quem está no comando da CBTE", disse Olsen. Já Anatoli Pudominis, que desembarcou no país esta semana, está confiante em seu 'intensivão'.

"Já estudei os atletas, e vamos aproveitar o pouco tempo que temos da melhor maneira possível. Temos boas chances de medalha, sim", avaliou o ucraniano, técnico de bala.
"Cheguei aqui e o caixa está vazio. Estou negociando com a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), que me prometeu 200 mil cartuchos de graça, e conversando com os atiradores, estou tentando pôr a casa em ordem o mais rápido possível, mas as coisas param na burocracia desse país", justificou Costa.

Entre as medidas emergenciais, as recontratações dos treinadores estrangeiros que comandavam as equipes de prato e bala -o italiano Carlo Danna e o ucraniano Anatoli Pudominis, demitidos pelo ex-presidente.

Com intermédio do COB, Danna foi reconduzido ao cargo após cartas de apelo dos atiradores no início do ano; e Anatoli voltou ao Brasil esta semana para um 'intensivão'.

Entre os destaques da equipe que vai ao Pan, Janice Teixeira, medalhista de bronze em 2003 na fossa olímpica, é a mais cotada para ocupar a primzaia de Bastos e se mantém otimista.

"A gente não pode mais brincar de política, não há mais tempo pra isso", sentencia Janice. "A gente torceu tanto para que o tiro voltasse à normalidade, e agora temos que pensar que as coisas vão melhorar e focar no Pan. Quero brigar por uma medalha e a vaga para Pequim-2008."

O diretor-técnico da CBTE, Eduardo Oliveira, tenta conter a repercussão entre os atletas. "Nossa preocupação é que isso atinja os atiradores de forma ruim. Tiro é concentração, e é difícil evitar que isso influencie nos resultados. Temos um Pan aí e mudanças bruscas podem ser perigosas", afirmou Oliveira.

"Fred é uma pessoa inteligente e sabe disso. Mas dentre os atletas há duas correntes, a favor de Durval e de Fred. Só esperamos que não surja um mal-estar entre eles", lembrou Oliveira.