"Medíocre". Essa é a resposta direta de Rodrigo Bastos, atirador de fossa olímpica medalha de prata em Santo Domingo-2003 (melhor resultado nacional na competição) e único brasileiro na Olimpíada de Atenas-04.
PROMESSAS VELHAS E NOVAS |
---|
Bastos ganhou a atenção da mídia ao conquistar a medalha de prata em 2003 |
Bronze em Santo Domingo, Janice Teixeira também é uma das cotadas para medalha |
Stênio Yamamoto, atirador de pistola, foi vice em etapa da Copa do Mundo (ALE) |
"Nosso planejamento foi muito ruim. Foi uma falta de organização por parte da confederação e do COB, que deveria ter assumido essa responsabilidade", desabafou Bastos. "O tiro está totalmente desorganizado e, como sempre, quem paga o pato somos nós, os atiradores", completou.
A planilha de treinos do paranaense foi ainda mais restrita pela impossibilidade de abandonar seu consultório de dentista em Guarapuava para competições internacionais, e também pela falta de munição às vésperas do Pan. "A confederação tinha nos prometido uma boa quantidade de cartuchos, mas não entregou. Com isso, fui obrigado que diminuir o ritmo", conta o atirador, que ganhou atenção da mídia ao igualar o recorde olímpico em 2003 (124 em 125 pratos).
Questionado sobre as expectativas e as chances da delegação brasileira, Bastos diz que "tirou o peso das costas" e se retira da lista de prováveis pódios. "Não tive o apoio que me prometeram, então já não me sinto responsável por conquistar nada", sentenciou ele, que intensificou os treinos este mês para 3 vezes por semana.
"Temos que dar graças a Deus pelo Stênio Yamamoto (atirador de pistola livre) pelo vice-campeonato na etapa da Copa do Mundo de Munique, porque ele vai nos salvar", afirmou Bastos. "Não tem nem como comparar o preparo que tive para 2003. Foi muito aquém do que esperava."
Curiosamente, Bastos chegou a ser tachado de 'traidor' pelos colegas no ano passado por se opor a um boicote às competições oficiais. Na época, o racha entre os atletas só piorou o ambiente já pesado pela crise.
Na sede da CBTE, Frederico Costa, recém-empossado na presidência no fim de maio, ainda se situa após a crise de quase dois anos. Afastado pelos últimos 15 meses, devido a uma liminar imposta pelo chefe da antiga gestão Durval Guimarães, Costa foi investigado por uso impróprio das verbas da entidade, e liberado pela Justiça, que o colocou de volta até as próximas eleições.
TÉCNICOS TAMBÉM DIVERGEM |
---|
Os treinadores da seleção também se posicionaram de maneiras diferentes frente à crise da modalidade. O italiano Carlo Danna, demitido pela gestão anterior, foi procurado por alguns atletas de prato e concordou em dar treinos 'por fora'.
Já Marcos Olsen, ex-atirador e atual treinador de prato, considerou a baixa expectativa uma "desculpa prévia". "A arma é a mesma, os pratos vão na mesma velocidade, é tudo igual, independente de quem está no comando da CBTE", disse Olsen. Já Anatoli Pudominis, que desembarcou no país esta semana, está confiante em seu 'intensivão'.
"Já estudei os atletas, e vamos aproveitar o pouco tempo que temos da melhor maneira possível. Temos boas chances de medalha, sim", avaliou o ucraniano, técnico de bala. |
---|
|
---|
|
---|
|
---|
|
---|
|
---|
|
---|
|
"Cheguei aqui e o caixa está vazio. Estou negociando com a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), que me prometeu 200 mil cartuchos de graça, e conversando com os atiradores, estou tentando pôr a casa em ordem o mais rápido possível, mas as coisas param na burocracia desse país", justificou Costa.
Entre as medidas emergenciais, as recontratações dos treinadores estrangeiros que comandavam as equipes de prato e bala -o italiano Carlo Danna e o ucraniano Anatoli Pudominis, demitidos pelo ex-presidente.
Com intermédio do COB, Danna foi reconduzido ao cargo após cartas de apelo dos atiradores no início do ano; e Anatoli voltou ao Brasil esta semana para um 'intensivão'.
Entre os destaques da equipe que vai ao Pan, Janice Teixeira, medalhista de bronze em 2003 na fossa olímpica, é a mais cotada para ocupar a primzaia de Bastos e se mantém otimista.
"A gente não pode mais brincar de política, não há mais tempo pra isso", sentencia Janice. "A gente torceu tanto para que o tiro voltasse à normalidade, e agora temos que pensar que as coisas vão melhorar e focar no Pan. Quero brigar por uma medalha e a vaga para Pequim-2008."
O diretor-técnico da CBTE, Eduardo Oliveira, tenta conter a repercussão entre os atletas. "Nossa preocupação é que isso atinja os atiradores de forma ruim. Tiro é concentração, e é difícil evitar que isso influencie nos resultados. Temos um Pan aí e mudanças bruscas podem ser perigosas", afirmou Oliveira.
"Fred é uma pessoa inteligente e sabe disso. Mas dentre os atletas há duas correntes, a favor de Durval e de Fred. Só esperamos que não surja um mal-estar entre eles", lembrou Oliveira.