UOL Esporte - Pan 2007
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20/06/2007 - 09h21

Pouca remuneração faz trio feminino do triatlo se despedir do Pan

Felipe Mendes
Em São Paulo

MARIANA OHATA, 28 ANOS
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"Provavelmente não irei para o próximo Pan". Esta afirmação é de uma das principais atletas do triatlo olímpico brasileiro: Sandra Soldan.

Entretanto, caberia perfeitamente na boca das outras duas selecionadas para os Jogos Pan-Americanos 2007: Carla Moreno e Mariana Ohata. No dia 15 de julho, o trio - que durou 15 anos - fará o seu último Pan.

Além do perfil já veterano, o motivo básico é o mesmo para as três: falta de dinheiro. Sem um salário fixo, o orçamento depende da verba dos patrocinadores (quando eles existem), da bolsa atleta de R$ 2.500,00 fornecida pelo governo federal e das premiações em provas que vencem.

Parece muito, mas as triatletas garantem que não é: "Neste ano e no ano que vem são os que a gente até consegue juntar um dinheiro, mas depois perdemos muitos patrocínios e até perdemos dinheiro", afirma Mariana.

Carla conta com mais detalhes como são seus gastos durante a temporada: "As viagens que eu faço, eu ganho a passagem e o hotel da confederação, mas traslado, alimentação e outros gastos são tudo por minha conta".

Diante da situação, a perspectiva de Carla é pessimista: "Se continuar do jeito que está, é inviável competir outro Pan. É como se hidratar com água, mas não ter isotônico", afirma ela.

CARLA MORENO, 30 ANOS
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A triatleta que nasceu em São Carlos (SP) conta que até mesmo sua participação nos Jogos Olímpicos de 2008 será por inércia: "Vou competir porque é no ano que vem, mas não dá para ficar mais quatro anos desse jeito".

Com o bolso abalado pelo pouco dinheiro e sujeitas a um cansaço tremendo em diversas seletivas que não pagam tão boas premiações, a saída encontrada é abandonar a vaga da seleção brasileira para poder se dedicar aos projetos pessoais e às provas que oferecem um prêmio maior: "Se eu vencer o Campeonato Brasileiro ganho 1.300 reais, se eu chegar em segundo lugar em uma etapa do Troféu Brasil de Triatlo, ganho 2.500 reais", compara Carla.

Mariana, na seleção brasileira desde 1999, também segue a mesma linha de raciocínio: "Estou pensando em fazer esse último ciclo. Vou até a Olimpíada. Mas acho que serão os últimos. Quero fazer mais provas promocionais, no Brasil, ganhar mais dinheiro", conta ela que também tem o plano de se focar na faculdade de educação física que já se arrasta por mais de 10 anos.

Não é só a brasiliense que pretende dar continuidade aos estudos. Formada em medicina pela UFRJ, Sandra Soldan também decidiu que está satisfeita de distâncias olímpicas e que dará mais atenção à formação acadêmica: "Pretendo fazer algumas provas de longa-distância e uma pós-graduação em medicina do esporte".

Sem os principais nomes do triatlo olímpico feminino, o esporte fica praticamente órfão. Isso porque nenhuma outra triatleta conseguiu elevar seu nível ao que existe internacionalmente.

SANDRA SOLDAN, 33 ANOS
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"Claro que há atletas boas, mas nenhuma em nível internacional", diz Mariana o que parece ser consenso entre os atletas.

Enquanto isso, a CBTri segue no processo de criação de novos talentos. Com estadiano Centro Nacional de Treinamento de Triatlo, em Vila Velha (ES) as atletas tem tudo que é preciso. Seria perfeito, não fosse um senão: ao completar 20 anos, acaba o vínculo com a CBTri.

"Eles investem nos novos talentos que ficam até os 20 anos, mas depois têm que sair. Como fica o pós-casa?", pergunta Carla, "tem que despontar logo, senão já era", ela mesma responde.