UOL Esporte - Pan 2007
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19/06/2007 - 08h51

Maior medalhista, Hoyama divide a mesa com seus fãs no Pan

Antoine Morel
Em São Paulo

Com 18 anos, Hugo Hoyama desembarcava em Indianápolis, Estados Unidos, para uma promissora carreira no tênis de mesa naquele ano de 1987. Na América toda, não há um atleta no seu esporte que tenha tantas medalhas em Pan-Americanos quanto ele.

EQUIPE: O OURO MAIS VIÁVEL
Bruno Miranda/Folha Imagem
Montagem mostra o veterano Hugo Hoyama posando e rebatendo bola durante treino
Apesar de ter dois ouros individuais nos Pan de 1991 e 1995, Hugo Hoyama tem poucas chances de repeti-los no Rio. Os chineses naturalizados da República Dominicana (Lin Ju, ouro em 2003) e na Argentina (Liu Song, prata em 1999) dominam o tênis de mesa do Pan há oito anos, e o brasileiro conseguiu no máximo um bronze.

Por isso, o torneio por equipes é o maior alvo para o ouro por equipes. Este ano, diferentemente de como foi feito em Santo Domingo, não haverá a disputa de medalhas em duplas. Em 2003, este foi o trunfo de Hoyama para oitava dourada. Em 2007, os três mesa-tenistas da seleção (que além de Tsuboi e Hoyama, tem Thiago Monteiro) fazem uma competição com estrutura de jogos igual a da Copa Davis (torneio de nações de tênis); ou seja, dois jogos de simples e um de duplas.

"A chance de ouro por equipes é um pouco maior, são 12 equipes no total, e a gente tem dois adversários mais ou menos fortes, a Argentina e os Estados Unidos", reconheceu Hoyama. "O ouro nas equipes irá tornar o Hugo recordista de medalhas e evidenciar nosso esporte", disse Gustavo Tsuboi.
São 13 no total, incluindo as tão anunciadas oito douradas, que lhe trazem outro recorde: o maior medalhista de ouro brasileiro nos Jogos. Título esse que é dividido com o nadador aposentado Gustavo Borges.

No seu sexto Pan, o do Rio, Hoyama, agora com 38 anos, se despede do evento treinando e jogando ao lado de fãs que se inspiraram nele. "Eu cheguei na seleção e tive a oportunidade de treinar com ele. Eu já admirava muito. Ele foi gente boa, super simpático. Ele dá uma de segundo técnico. Ele passa muita coisa. Ele tem muitos anos de tênis de mesa e dá a vida por isso", afirma Karin Sako, 19 anos, a única novata em Pan da seleção brasileira que estará no Rio em julho.

A postura de ídolo e segundo técnico dá a Hoyama a postura de cobrar empenho dos mais novos. Em entrevista ao UOL Esporte em 2006, ele discursava sobre a diferença de comportamento dos mais jovens da seleção com o seu modo de treinar e encarar o esporte.

"Eles (os novatos) estão muito acomodados, é muita moleza, não tem aquele sacrifício que tinha antigamente. Eles sabem disso, mas não vêem. Na hora de treinar, na hora de se sacrificar, eles não pensam nisso. Era coisa que a gente nem pensava. Hoje o pessoal fala com a molecada e ouve: 'não, estou cansado, estou com dor no joelho'. Eu, quando tinha 20 ou 25 anos, não tinha dor de nada", diz.

Para ele agora, às véspera dos Jogos do Rio, essa acomodação passou, e ele vê os calouros tendo o respeito até dos rivais. "Melhorou bastante isso. Estão bem mais conscientes. Estão morando na França (em referência a Casuo Matsumoto e Gustavo Tsuboi), longe da família e ganhando experiência", analisa Hoyama.

Tsuboi é o outro fã na equipe. "O Gustavo já falou pra mim que me via como um ídolo, que se espelhou em mim. A gente é quase que rival na mesa, mas acho que eu pude ajudar", conta.

Com 22 anos e um Pan-Americano nas costas (o de 2003, quando conquistou a medalha de prata), Tsuboi quer retribuir e ajudar Hoyama no recorde de ouros. "Espero ajudá-lo da melhor maneira possível, jogando bem. E, fora da mesa, sendo prestativo e solidário para o que a equipe precisar. O time bem unido demonstra confiança entre os integrantes, o que é um ponto forte para nós. Fora isso, eu também quero o ouro, então por interesses individuais podemos chegar no interesse em comum"

Apesar de toda a fama local que Hoyama conta entre as novas gerações do esporte, o tênis de mesa brasileiro é ainda pouco competitivo fora da América. Em Olimpíadas, o melhor resultado (aliás, até hoje comemorado pelo próprio mesa-tenista) foi um nono lugar nos Jogos de Atlanta-1996, conseguido pelo recordista. Porém, ele diz acreditar que o Brasil tem potencial para o esporte e que está disposto a ajudar.

"Pelos resultados, eu e Cláudio Kano sempre tivemos uma posição de igual a igual com todo mundo. Talento, o brasileiro tem. Pode contar com meu apoio. Nós temos condições de lutar contra todo mundo", afirma o mesa-tenista, que relembra o parceiro Kano, morto em acidente de moto em 1996 e 12 vezes medalhista em Pan.

Para por em prática os seus ensinamentos, Hoyama já pensa na futura ocupação depois de deixar a bolinha. "Técnico. É a tendência. Mas não acho que logo depois que eu parar", sentencia.

Antonio Gaudério/Folha Imagem
Brasileiros festejam ouro e prata nas duplas em 2003 (a prova saiu do programa no Rio)
Para o mesa-tenista, o diferencial do brasileiro é fazer um estilo de jogo original, como ele fez. "Meu estilo de jogo é diferente. Esta foi minha grande vantagem. Com o meu técnico, eu sempre pensava que eu teria que fazer uma coisa diferente. Meu jogo não tem muita força, tem que usar a habilidade. Como estava longe da Europa e da Ásia (dois pólos do tênis de mesa), tinha que fazer algo original", relembra Hoyama, já com um tom de alguém quer passar sua experiência para frente.

Antes de parar, porém, ele ainda prevê e sonha com mais um Jogos Olímpicos, em Pequim, ano que vem. Por isso, ao falar do seu legado no esporte, ele é reticente e lembra dos seus esforços pessoais.

"É difícil falar ainda, mas eu tenho 30 anos de tênis de mesa. Tive que fazer muito sacrifício pelo esporte. Tem que ter perseverança. Sempre que você coloca objetivos, você consegue. Claro que não é fácil. Se fosse fácil, todo mundo seria campeão", completa.