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04/06/2007 - 09h56

"Atirador zen" do Pan, Yamamoto completa o sonho olímpico

Bruno Doro
No Rio de Janeiro

Em 1999, o dentista Stênio Yamamoto ouviu um comentário que mudou sua vida. "Você atira? Sabia que pode ir para as Olimpíadas fazendo isso?" Atleta de fim de semana, o descendente de japoneses não sabia, mas naquele momento abraçou o sonho de representar o país.

Divulgação
Stenio foi vice-campeão mundial de pistola livre na Copa do Mundo de Munique (ALE)
"Quando me falaram que o tiro era esporte olímpico e que eu poderia representar o Brasil lá fora, me interessei. Fui ver se conseguia algum resultadinho. Dois anos depois, eu já estava entre os dez melhores do ranking brasileiro", lembra o atirador paulista de 45 anos.

Hoje, oito anos após a descoberta, ele está nas Olimpíadas. Na semana passada, ele foi vice-campeão da etapa de Munique, na Alemanha, da Copa do Mundo de Tiro Esportivo. Cada etapa distribui uma vaga em Pequim-2008, mas na Alemanha, o campeão já tinha o lugar garantido.

Em 2005, ele já tinha batido na trave. "No Campeonato das Américas, que foi disputado em Porto Rico, eu fiquei em segundo lugar e na final dessa modalidade eu fiquei só a meio ponto da cota olímpica. Fiquei em segundo lugar e a vaga era só para o primeiro colocado", diz Yamamoto.

Desde as Olimpíadas de 1992, em Barcelona, com Tânia Maria Giasante e Wilson Scheidemantel, o Brasil não conquistava uma vaga nas provas de bala nas Olimpíadas. Em Atenas-2004, Rodrigo Bastos representou o tiro brasileiro, mas nas provas de prato.

Aparentemente, o som alto dos tiros não combina com a filosofia zen. Yamamoto, porém, chegou às Olimpíadas justamente por essa estranha junção. "Comecei a atirar porque o meu pai gostava, mas eu só brincava. Ele dizia que a modalidade era zen e ele atirava justamente para isso, para limpar a cabeça", conta.

Essa busca pelo lado zen das armas, aliás, já fez com que o atirador olímpico promovesse um encontro inusitado: um professor de tai-chi-chuan, a arte oriental de movimentos lentos, com uma pistola. "Ele ficou admirado como, na hora em que você está atirando, limpa toda a sua cabeça, exatamente como pregam as artes zen. Esvaziar a mente, afastar o stress", relata.

Esvaziar a mente, aliás, é algo que Stênio já está acostumado em sua profissão. Afinal, ele convive, diariamente, com o barulho dos famigerados motorzinhos de dentista. Além disso, as habilidades manuais desenvolvidas na profissão são apontadas como um trunfo.

"A minha profissão já ajuda uns 30 ou 40 por cento na hora de atirar. Por causa da coordenação motora de precisão, eu tenho muito mais controle do movimento. Um técnico russo já dizia isso, que pintores e artesãos têm essa habilidade. Nós não trememos tanto", explica o atirador que disputa a mesma prova no Pan do Rio, em julho.