UOL Esporte - Pan 2007
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24/05/2007 - 13h30

COB minimiza caos, e pais de atletas do hóquei vão ao MP

Fernanda Brambilla
Em São Paulo

Começou com discussões em treinos, se agravou a uma greve geral de atletas e seguiu com um desmanche das seleções permanentes. O hóquei na grama do Brasil vivenciou, às vésperas do Pan, convocações às pressas e via orkut, denúncias que vão de condições precárias de treinos a abusos do técnico da seleção feminina. Agora, a modalidade inicia mais um capítulo de sua crise, que parece longe do fim.

Pais dos ex-atletas das seleções tentam impetrar um processo criminal contra a Confederação Brasileira de Hóquei Sobre a Grama (CBHG) e seu presidente, Sydnei Costa. Esses mesmos pais obtiveram, em apelo ao COB, a destituição do técnico da seleção feminina, Cláudio Rocha, filho de Sydnei.

BAIXA EXPECTATIVA
Além de jogadores recém-apresentados ao esporte, a seleção feminina de hóquei contará com o reforço de algumas estrangeiras que participavam da equipe anterior, aderiram à greve, mas foram convencidas pela confederação a voltar.

"A entidade entrou em contato comigo, disse que o Cláudio tinha sido afastado, que ele não voltaria e me pediu para voltar à seleção. Eu entendo a greve das meninas e as apoiei, mas decidi voltar", confirmou Mariana Bonifacino, que não participou da seletiva, em entrevista por telefone desde o Uruguai.

Como combinado, o nome da estrangeira consta na lista de pré-convocadas divulgada. "A surpresa foi não ver o nome das meninas antigas", afirmou Mariana, que não tem grandes expectativas para o Pan. "Esse grupo é bem pior. E ainda que todo mundo tivesse o mesmo nível, ninguém nem se conhece, nunca jogamos juntas", reconhece.
CONVOCAÇÃO VIA ORKUT
"Afastar o Cláudio do contato direto com nossos filhos foi uma primeira vitória. Tentamos apelar ao COB novamente, mas eles ignoraram nosso novo protesto. Queremos que o Ministério Público se encarregue das nossas denúncias", diz Mauro Bernardino, pai da ex-atleta da seleção Laís.

Em conjunto com outros pais indignados, Bernardino diz que o objetivo agora é obter o afastamento do presidente da confederação, que estaria dando continuidade à rotina irregular antes comandada por Cláudio.

No início do mês, a entidade organizou duas seletivas abertas, em que qualquer brasileiro (mesmo sem ter nunca jogado a modalidade) pôde participar e tentar uma vaga na seleção montada às pressas para a disputa dos Jogos Pan-Americanos.

Para os pais dos ex-titulares, que observaram de longe a empreitada, foi a gota d´água. "Denunciamos essa seletiva como mais um disfarce, uma manobra da CBHG para dar uma falsa satisfação ao COB, querendo passar a idéia de que há um processo correto e transparente em curso", afirmam os pais no documento.

"O afastamento do senhor Cláudio Rocha é pura fantasia, como ele mesmo afirmou para diversos atletas. Ele está ainda envolvido na seleção e arquiteta toda esta simulação em parceria com seu pai, presidente da CBHG. Um esporte que ainda está em estágio inicial no país, se encontra ameaçado por esse tipo de atitude. A previsão do desastre de sua participação nos Jogos Pan-Americanos é evidente", dizem na carta.

Acusações antigas também são reanimadas: "O senhor Cláudio Rocha contribui para criar e manter um ambiente pesado e inadequado usando um linguajar de baixo calão durante os treinos e torneios (...). Por várias vezes fez comentários sobre algumas atletas taxando-as de "vagabundas" porque saíam a noite com rapazes para festas, chegando a ponto de impor-lhes situação de humilhação (tais como falar do tamanho da calcinha que as atletas usam sob o uniforme; gabar-se de sua capacidade de formar uma equipe com meninas bonitas; comentar pejorativamente sobre os corpos das atletas, dentre outras)."

Informado pela reportagem do UOL Esporte das duas cartas, o COB afirmou que "quanto aos problemas pessoais de pais de atletas com a Confederação Brasileira de Hóquei na Grama, o COB não tem o poder de intervir pois não interfere em questões internas das confederações."

Arquivo Pessoal
Unida desde 2005, seleção feminina permanente foi desfeita no início do ano
A entidade reiterou ainda que "para a formação das equipes sob o aval do novo treinador e das comissões técnicas, foram realizadas seletivas abertas a todos os atletas de hóquei. Essas seletivas foram feitas nas cidades de Florianópolis e São Paulo. Portanto, o posicionamento do COB em relação ao assunto aconteceu."

Sobre a continuidade da influência da família Rocha na confederação, o COB afirmou que, "em conjunto com os dirigentes da confederação, foram feitas reuniões entre o conselho diretor do e dirigentes da CBHG. Houve um consenso que gerou o afastamento do treinador Cláudio Costa e a conseqüente contratação do treinador argentino Jorge Martin Querejeta."

Outra mãe envolvida no processo, Monique Gelbcki, mãe da jogadora Juliana, se diz lesada pela iniciativa do ex-técnico. Segundo ela, que é vice-presidente da federação catarinense, a entidade só existe no papel, e teria sido criada com o único intuito de manter o ex-dirigente em um cargo.

"Foi criada uma federação fantasma, que não presta contas nem resolve nada. Demorei para perceber, mas hoje vejo que fui usada em algo que achava que era positivo, que ia fomentar o esporte. Mas eu, como outros pais, fui usada pelo Cláudio", diz Monique.

"A Confederação iludiu esses meninos e meninas com o sonho de se tornar atleta de verdade, os fez desistir de estudo, de carreira, para acreditar no hóquei. De um momento a outro, desistiu, tirou deles casa, comida, o pouco apoio que tinham. Como o COB continua mandando recursos para isso? Realmente acham que é problema pessoal?", questiona.

Apesar das diversas tentativas, a assessoria da confederação de hóquei não atendeu à reportagem do UOL Esporte.