Evolução dos atletas cegos no Parapan transforma corredor do Pan em guia

Felipe Pereira

Do UOL, em Toronto (CAN)

Corredor cego do Brasil nos 1500 metros, Odair Ferreira dos Santos é tão bom que seu guia em Toronto é ninguém menos do que Carlos Antônio dos Santos, que representou o país na mesma prova do Pan. Dono do terceiro melhor tempo do ano no Brasil, Carlos esteve no Canadá em julho e precisou voltar em agosto no Parapan.

O nível dos corredores que disputam competições paraolímpicas tem crescido tanto que está difícil de encontrar guias afirma Ciro Winckler, coordenador técnico de Atletismo. Hoje são procurados atletas que estão na ativa, para que seus tempos possam ser acompanhados, que tenham o perfil psicológico forte e sejam bons estrategistas.

Fernando Dias é um dos escolhidos. Esta na função desde 2004 e atualmente trabalha com Jhulia karol. Velocista que chegou a ser vice-campeão brasileiro, ele lembra que quando começou na profissão o recorde mundial masculino nos 100 metros era de 11,36 segundos. Hoje este tempo sequer dá vaga na final do Parapan.

O velocista explica que além do trabalho com o atleta é preciso treinar por conta própria porque a função exige mais velocidade do que a pessoa guiada. A necessidade existe porque é preciso dar informações da prova como colocação, quantos metros faltam para chegar entre outras.

"Tem que estar bem preparado para ser guia e não âncora", brinca.

Por este motivo são até quatro horas de pista pela manhã e duas horas de academia à tarde. Fernando e Jhulia Karol trabalham no Rio de Janeiro junto com os atletas que disputam as provas olímpicas. Mas ser rápido não basta, ressalta o coordenador técnico de Atletismo.

"Será que (o candidato) tem a personalidade do supercampeão? Muitas vezes não. Só que nossos guia têm. É o cara que não gosta de perder", afirma Ciro.

As avaliações são constantes. O guia é submetido ao mesmo protocolo de controle que é aplicado aos atletas. Com tantas exigências a comissão técnica monta e atualiza um banco de dados de potenciais profissionais. Esta tarefa é ajudada pelo bom relacionamento com os atletas e os treinadores olímpicos.

Além de cumprir todas estas exigências técnicas, a parceria demanda confiança e o guia e o atleta precisam se dar muito bem dentro e fora das pistas conta Fernando Martins. Ele trabalha com Renata Bazzone, competidora dos 1500 metros, e os dois são amigos.

"Eu me identifico com a minha atleta. Dividimos problemas, almoçamos juntos, jantamos juntos. Frequentamos a casa um do outro e vamos nas festas da família".

A seleção brasileira de atletismo conta com 18 guias e a carência na função é ocasionada pela evolução da modalidade. Ciro recorda que no Campeonato Mundial de 2006 o país ficou com 24º lugar. Na última competição, em 2013, foi o terceiro. A falta destes profissionais não é a situação ideal, mas ter dificuldades porque os tempos estão caindo não deixa de ser um problema bom.

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