Irmão de Zé Roberto tira dinheiro do bolso para treinar time no Parapan

Felipe Pereira

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • Marcio Rodrigues/CPB/MPIX

    Seleção brasileira de vôlei sentado em ação na vitória sobre o México na estreia no Parapan de Toronto

    Seleção brasileira de vôlei sentado em ação na vitória sobre o México na estreia no Parapan de Toronto

Abnegação é uma definição adequada para a atitude de Fernando Guimarães com o time de vôlei sentado que disputa o Parapan de Toronto. O técnico chega a tirar dinheiro do bolso para comandar a equipe. Empregado de uma hípica, ele contrata um substituto para ficar em seu lugar para poder treinar a seleção brasileira.

Irmão mais novo do tricampeão Olímpico José Roberto Guimarães, Fernando não tem rotina de treinamentos diários. A seleção brasileira de vôlei sentado se reúne para treinar algumas semanas no ano. Ele também não ganha salário. Às vezes recebe ajuda de custo por largar o emprego e dirigir a equipe, mas quando o dinheiro não pinga acaba pagando para trabalhar.

Fernando sabe que a situação não é a ideal e espera que tudo seja resolvido num futuro próximo. Mas não fica reclamando e vê na possibilidade ganhar o ouro no Rio 2016 a razão para tanta entrega. Ele assumiu o cargo e 2011 a convite de Amauri, jogador da geração de prata e presidente da confederação do vôei sentado, e desde então o time mudou de patamar.

Antes a realidade era perder mesmo jogando bem. Hoje, a seleção brasileira é conhecida por ganhar até nos dias em que joga mal. Fernando lembra o que falou para os atletas logo que assumiu o posto. "Perguntei se eles estavam preparados para serem preparados para se tornarem campeões".

O sim dos jogadores significou um nível de comprometimento de esportista de alto rendimento, afinal estavam sob comando de um profissional com anos de estrada. Fernando trabalhou com Zé Roberto Guimarães na seleção brasileira feminina e em equipes de ponta do voleibol nacional.

Sob seu comando o time terminou em quinto nas Paralímpiadas de Londres. Na sequência, o técnico fez pactos com os jogadores e a evolução ocorreu. Em 2013 o combinado era terminar as competições no pódio. No ano seguinte, chegar sempre às finais dos torneios que disputaram. Agora o acordo é não perder até a decisão do Rio 2016.

Para alcançar estes ousados objetivos, Fernando estabeleceu um nível de profissionalismo que os atletas do vôlei sentado não conheciam. Como o time não está reunido o ano todo planilhas de treinamentos físicos são entregues aos integrantes da seleção. No começo alguns davam o migué e chegavam fora de forma. O treinador se impôs e hoje isto não há menor possibilidade disto acontecer.

Nas semanas em que o grupo se reúne o trabalho é intenso. Chega a seis horas diárias e hoje o time joga no esquema 5-1, ou seja, um levantador e cinco homens para atacar. É a única selação do Parapan que atua no mesmo sistema que as equipe de vôlei de quadra.

O grupo também entendeu que precisa comer direito, descansar, ir à academia e se dedicar mesmo nos dias ruins. Eles são cobrados como esportistas de alto rendimento e até bolsa atleta recebem.

A imposição desta filosofia ficou mais fácil com a incorporação de três jogadores que foram profissionais e serviram de espelho para o grupo. O trio também aumentou a estatura média do vôlei sentado de 1,84 metros em Londres para atuais 1,96 metros.

A seleção também conta com comissão técnica completa: médico, preparador físico, fisioterapeuta, psicólogo, coaching e dois assistentes técnicos. Assim como Fernando, nenhum deles recebe salário. A medalha nas Paralímpiadas é o caminho para o reconhecimento e seria mais fácil se o grupo pudesse treinar com frequência. Como a modalidade não esta estruturada, os atletas se reúnem apenas alguma semanas por ano e chegaram a ficar 11 meses sem se encontrar.

Ainda assim, o treinador considera possível chegar ao ouro. Espera que esta conquistas pavimentem o caminho que o vôlei sentado se torne profissional de vez e a comissão técnica seja tratada da maneira que merece.

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