Por que no esporte que Brasil deu show no Pan a vida na Olimpíada é outra

José Ricardo Leite

Do UOL, em Toronto

  • Gregory Bull/AP

Ouro, prata e bronze no individual masculino, o único pódio 100% verde e amarelo nos Jogos Pan-Americanos. Se não bastasse isso, os homens também foram os campeões por equipes. E as mulheres obtiveram prata nessa categoria, além de outra prateada e mais um bronze no individual. Com sete medalhas, o tênis de mesa foi um fenômeno no Pan, mas é do tipo de esporte que na Olimpíada a história muda completamente. E em muito pela multiplicação de talentos da China.

O país de 1,4 bilhão de habitantes sempre foi o mais tradicional polo de talentos e teve amplo domínio no esporte. Não bastasse a mão de obra farta a seu favor, passaram a exportar jogadores pelo mundo que passaram a se naturalizar por outros países.

Finalistas do Pan de Toronto, Hugo Calderano e Gustavo Tsuboi são dos raríssimos jogadores da América no top 80 (respectivamente número 55 e 76) em circuito dominado por asiáticos e europeus (com boa dose de chineses naturalizados). Nos Jogos Olímpicos, é possível ter até três atletas de um mesmo país na disputa, o que dificulta muito a briga por medalhas.

Tanto é que em Londres-2012, ouro e prata no individual foram para a China. Quatro anos antes, em Pequim, ouro, prata e bronze pararam nas mãos dos chineses, que têm 47 medalhas ao longo da história em Olimpíadas e os quatro primeiros colocados do ranking mundial. Há outros países com jogadores muito bem ranqueados e que podem levar três para a Olimpíada, como Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e Alemanha, todos com pelo menos três atletas no top 25 individual.

"Olimpíada é completamente diferente em relação ao Pan, somos favoritos aqui, mas na Olimpíada somos parte de países quem pode surpreender. Temos um tempo pra melhorar lá até lá. O número de três jogadores deles é muito forte. Temos provado que ´podemos jogar de igual pra igual. Mas o Pan foi uma vitória pra um esporte que evolui", falou Thiago Monteiro, experiente brasileiro que foi bronze em Toronto.

Os brasileiros até tiveram bons resultados este ano no circuito internacional. Tsuboi e Calderano ficaram com a medalha de prata nas duplas do Aberto do Qatar, torneio que tem status semelhante a um Grand Slam no tênis. Calderano, o mais novo dos brasileiros, com 20 anos, chegou a vencer Timo Boll, alemão sétimo colocado no ranking mundial. O melhor resultado brasileiro em Olimpíadas foi do hoje técnico Hugo Hoyama, em 96, quando chegou nas quartas de final.

O país tem intensificado seu intercâmbio tanto com europeus como com asiáticos. "O Brasil conseguiu sim (tirar a diferença pra europeus e asiáticos. É importante esse intercâmbio. Fomos pra China, Japão, Coreia. Isso é legal. No masculino eles vão pra China. Eles vão treinar com a equipe da China com nível alto. Fazer jogo duro com Japão. Estamos no caminho certo pra alavancar o nível no masculino. Ajuda a ver como eles recebem bolas, saques e atacam. Isso é importante o contato com eles", falou Hugo Hoyama, que participou das últimas seis Olimpíadas como jogador e agora é técnico do time feminino.

Só Hugo Caldeirano, brasileiro campeão no Pan, tem vaga garantida no individual e dentro da equipe. Os outros terão que disputar o pré-olímpico de abril no ano que vem, no Chile, para sacramentar as outras duas restantes. O jovem de 19 anos é visto com muito potencial por ser considerado talentoso e com muito potencial para o futuro.

"Ele tem potencial pra ser um dos melhores do mundo num tempo não distante. Ele joga bem aqui e torneios internacionais, tem acompanhamento aqui e na Europa com bons técnicos joga nos melhores clubes e treina com caras bons acho que não tem muito como dar errado não", falou o companheiro Thiago Monteiro.
 

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