Do mochilão para a Olimpíada: como um inglês jogará pelo Brasil em 2016

Daniel Brito

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • EFE/ NESTOR PONCE ORG

    Chris naturalizou-se em 2014 e defende a seleção de hóquei na grama em Toronto

    Chris naturalizou-se em 2014 e defende a seleção de hóquei na grama em Toronto

Uma viagem de mochilão pela América do Sul há seis anos levou o inglês Christopher Paul McPherson, 31, a trilhar caminhos até então improváveis na vida. Hoje ele é titular e um dos mais experientes jogadores da surpreendente seleção brasileira de hóquei na grama que está na semifinal do Pan de Toronto e classificada para os Jogos Olímpicos do Rio-2016.

Chris, como é chamado pelos companheiros de equipe, é inglês da cidade de Derby, e atravessou a América do Sul passando por Argentina, Brasil, Chile, Peru, Equador e subiu até a Colômbia. Mas a trajetória para tornar-se brasileiro começou, ainda que indiretamente, em Valparaíso, cidade de estilo colonial no litoral chileno. Foi ali que ele conheceu a gaúcha Patrícia. 

O romance da viagem engrenou de verdade e os dois chegaram a morar juntos na Inglaterra, onde Patrícia também vivia antes de conhecê-lo. Foi então que eles decidiram se casar e se estabelecer em Porto Alegre, onde a mulher de Chris nasceu.

Ele conseguiu emprego como professor de inglês, ocupação que mantém até hoje, e, como sempre foi um grande fã de hóquei na grama, esporte que tem certa popularidade no Reino Unido, entrou em contato com membros da CBHG (Confederação Brasileira de Hóquei sobre a Grama) se oferecendo para fazer alguns testes. Chris começou a jogar hóquei por influência da mãe, na escola, em Derby, e disputou campeonatos regionais na Inglaterra, mas nunca atuou profissionalmente,

Chris passou pelo crivo da comissão técnica com louvor. Hóquei na grama é uma daquelas modalidades pouco difundidas no Brasil, por isso todo talento é bem recebido pela CBHG. Mas Chris mostrou boa técnica e visão de jogo. No Pan-2007, no Rio, por exemplo, a seleção perdeu todos os jogos que disputou, inclusive para a Argentina, por 19 a 0. Mas isso foi antes da consolidação da política de incorporar estrangeiros na equipe brasileira.

Além de Chris, o time que está no Pan ainda conta com os irmãos Patrick e Yuri van Der Heijden, e o pernambucano de nascimento mas criado na Inglaterra Stephane Smith. A iniciativa rendeu o primeiro grande resultado positivo em Toronto.

O time comandado por Cláudio Rocha conseguiu se classificar para os Jogos Olímpicos do Rio-2016, após vencer, nos pênaltis, os Estados Unidos, na terça-feira. Assim, classificou-se para a semifinal contra o Canadá, na noite desta quinta-feira. E atingiu a meta de ficar entre os seis melhores do Pan, estipulada pela federação internacional, para garantir um posto em 2016.

Chris tem pouco mais de 15 jogos com a camisa do Brasil. Ele entrou com processo de naturalização em 2012 e concluiu em 2014, quando estreou na equipe. É defensor no esquema de Cláudio Rocha e peça importante porque empresta experiência à equipe. "O time do Brasil tem muitos talentos. Obviamente que há uma certa diferença cultura no temperamento e comportamento dos brasileiros, mas eu acho até melhor, porque no Brasil todo mundo fala o que sente e o que pensa. Eu acho que, para este grupo, é uma característica positiva. Na Inglaterra as pessoas se fecham e explodem de uma vez", comparou Chris.

E aquele turista inglês que se casou com uma brasileira, trocou a Europa pelo Rio Grande do Sul e retomou a prática de seu esporte predileto em um lugar onde a modalidade tem pouca divulgação prefere ainda não falar em como será a participação na Olimpíada. "Chegamos em condição de ganhar medalha Pan-Americana. Agora vamos até o final.

Prefiro fechar meu foco nisso. A ficha da vaga olímpica ainda não caiu, vou deixar para pensar nisso só a partir da próxima semana, quando tivermos, quem sabe, a medalha do Pan", comentou.

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