Polo do Brasil irritou os EUA. Acabou derrotado na final do Pan
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (Canadá)
O Brasil se tornou o grande rival dos EUA no polo aquático. E a grande prova disso veio nesta quarta-feira, na decisão dos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Na final masculina, os EUA fizeram 11 a 9.
Foi o sexto título norte-americano seguido. O 12º no geral. Mas, mais do que manter essa sequência, a vitória valia o orgulho americano. Antigo mandachuva da modalidade no continente, os EUA estão vendo a sua hegemonia ser ameaçada pelo Brasil.
"É uma lição pra todo mundo. Esse time tá no período de construção. E um título importante e a gente queria. Eles entraram mordidos. Mas nós também", comentou após a partida o craque brasileiro Felipe Perrone. "Eles estavam motivados. Até pela derrota na liga", acrescentou Salemi. "Achava que poderia voltar a vencer. Pra gente, só valia o ouro, a prata não valia. São lições pra pegar experiência. Tudo é aprendizado pra Olimpíada", avaliou Adrian Delgado.
O treinador Ratko Rudic também falou sobre a derrota na final. "É um time muito jovem, que nuca esteve em uma situação como essa antes. Nunca jogou com tanta pressão. Então, já esperávamos que alguns erros fossem aparecer. Nós criamos mais oportunidades do que os americanos e, se tivéssemos marcado, o jogo seria diferente. Mas os americanos fizeram uma excelente partida e mereceram esse ouro."
Na fase classificatória da Liga Mundial, a seleção brasileira ficou na frente dos americanos – mas não houve confronto direto. Nas finais, o desafio foi ainda maior: os brasileiros venceram a decisão da medalha de bronze, nos pênaltis.
No Pan, a "provocação" seguiu. Na fase eliminatória, a vitória verde-amarela sobre o Canadá mandou os donos da casa para o lado norte-americano da chave. Como o evento em Toronto valia vaga nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, isso fez com que os EUA tivessem de definir a classificação olímpica já na semifinal, contra os donos da casa. Venceram, mas o jogo foi duríssimo.
Outra bronca dos "yankees" tem a ver com a maneira como o Brasil virou uma pedra no sapato das potências do polo aquático no mundo. Esses resultados são fruto de um projeto tão ousado quanto polêmico. Primeiro, veio o croata Ratko Rudic, tetracampeão olímpico e considerado o melhor treinador do planeta. Depois, veio um time importado.
Perrone, que jogava pela seleção da Espanha (e foi vice-campeão mundial em 2009), passou a defender o Brasil – ele nasceu no Rio de Janeiro. Adrian Delgado, espanhol, e Paulo Salemi, italiano, adotaram o país dos pais e reforçaram a equipe.
Os últimos foram o cubano Ives Gonzalez, casado com uma brasileira, o sérvio Slobodan Soro e o croata Josip Vrlic. Os dois últimos foram naturalizados esportivamente – o processo foi acelerado a pedido da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Desses, apenas Soro não está no Pan: ele ainda cumpre a quarentena esportiva para a naturalização exigida pela Fina (Federação Internacional de Desportos Aquáticos).
A vontade mostrada pelos americanos na partida mostrava o quanto o confronto era importante. Cada posse de bola era disputada à exaustão. O primeiro quarto terminou apenas 1 a 0 para os EUA. A partir do segundo período, a defesa, o forte verde-amarelo, não funcionou tão bem. Em contrapartida, os esforços contra um dos destaques brasileiros, o croata naturalizado Josip Vrlic, funcionaram – os responsáveis pela marcação foram Alex Obert e Jesse Smith, na maior parte do jogo. Em nenhum momento, os americanos perderam a vantagem no placar, ficando sempre à frente.