O técnico do campeão olímpico que não tem medo de dar cortada. Nem na Globo
Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto (CAN)
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RICARDOBUFOLIN/CBG
Arthur Zanetti posa com o técnico Marcos Goto após mais uma conquista
Medalha de ouro no Pan-2015, o ginasta Arthur Zanetti dava suas últimas entrevistas em Toronto quando foi chamado por produtores da TV Globo para dar entrevista para o Jornal Nacional. "Mas o Jornal Nacional é só à noite", contra-atacou o seu técnico Marcos Goto. Em seguida, liberou o atleta para falar a reportagem.
A frase traduz o estilo cortante e sincero do treinador que formou o campeão olímpico e levou a ginástica masculina brasileira a um patamar nunca alcançado anteriormente. Hiperativo, direto, meio provocador, meio showman, obsessivo pelo trabalho, Goto, 48, se torna uma figura que atrai a atenção nos locais onde vai apesar de seu 1,56 m.
Nunca foi uma dificuldade para ele expressar suas posições, seja para microfones, seja em família. Óbvio, isso lhe rende situações desconfortáveis. "Quem fala a verdade sempre tem problema. Pode ser aqui (na ginástica), pode ser em casa", reconheceu.
Quando Zanetti brigava pelo ouro em Londres-2012, reclamou da falta estrutura dada pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil). Deu certo. Agora tem um centro
de treinamento no Rio.
Em outra ocasião, seu enteado Henrique Flores, que é ginasta, envolveu-se em um caso de racismo dentro da equipe. Goto defendeu sua punição, mas ao mesmo tempo o preservou. É assim que age com seus atletas: proteção e cascudo.
"Não sou de dar recado (no ouvido)", disse, rindo, quando questionado sobre suas broncas nos atletas quando não rendem bem. Tanto que o outro treinador com quem se identifica é Bernardinho, da seleção masculina de vôlei. "A gente sempre brinca bastante sobre isso (estilo)."
A exigência que faz sobre seus esportistas é a mesma que tem consigo mesmo. Em seu dia a dia, tem a ginástica 24 horas por dia na cabeça. "Pensei no movimento novo do Zanetti para Londres (que rendeu a medalha de ouro) em uma corrida. Estou dormindo, acordo e penso em algo para melhorar, levanto e anoto no caderno."
Essa obsessão o levou para longe de São Caetano, de sua mulher, filha e seus bichos (cachorro, gato...), suas corridas para ter melhores condições no Rio. Explica-se: só consegue trabalhar se tiver uma dedicação plena. De outra forma, é melhor largar, contou.
Quando acaba o treino, e começa a competição, Goto ressalta-se o estilo hiperativo no tablado, um contraste com a placidez de Zanetti. No banco, gira, bate palma, fala com todos os técnicos em volta. Após levantar seu atleta até as argolas, fica atrás batendo palma a cada movimento. É uma forma de lidar com o nervosismo.
Acabada a competição, é hora de Goto distribuir suas cortadas, digamos assim. Ficou conhecido um episódio em Londres-2012 quando a estrela de tv Ana Paula Padrão brincou com o técnico sobre sua exigência nos treinos. "Eu não queria ser sua atleta, viu", disse ela. "Por isso que você é repórter e ele (Zanetti) é campeão olímpico", respondeu o treinador.
Não faltam dessas respostas no dia a dia, mas não costumam ser ofensivas ao interlocutor. Há um tom de brincadeira em várias de suas alfinetadas, e é mais provável que provoque um riso do que uma cara feia. Até quando faz sua auto-promoção.
Perguntado sobre o que fazia de Zanetti um campeão olímpico, Goto mandou de pronto: "O diferencial dele é ser treinado por mim". Ao ouvir a frase, Zanetti apenas sorriu.