"Irmãs Williams" e dupla masculina dão duas pratas para Brasil no badminton
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)*
Pela primeira vez, uma medalha estampa o peito de uma brasileira no badminton em Jogos Pan-Americanos. Uma não, duas: de Luana e Lohaynny Vicente. Mesmo com a derrota na final para as americanas Eva Lee e Paula Lynn Obanana, a dupla entra para a história como responsável pela primeira subida ao pódio do Brasil no torneio feminino da modalidade.
Apesar do equilíbrio no início da partida, as brasileiras não foram páreas para as americanas, que contavam no currículo com três medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos, todas conquistadas no Rio de Janeiro, em 2007, por Eva Lee: simples, duplas e duplas mistas.
A partida terminou em 2 sets a 0, parciais de 21-14 e 21-6, e as "irmãs Williams" brasileiras ficaram com a medalha de prata nas duplas femininas. "Essa é uma prata que vale ouro. Por tudo que nós passamos para chegar até aqui", afirmou Luana. "É a primeira de muitas medalhas. A gente só está começando no esporte", avisou.
"Isso de irmãs Williams começou a pegar no Pan de 2011, em Guadalajara, quando fizeram uma reportagem conosco. A partir de lá, todos nos chamam assim. A gente gosta bastante disso, mesmo porque somos fãs delas. Em 2016, se for para a Olimpíada, uma das coisas que mais vou querer fazer é tirar foto com a Serena e pegar autógrafo. Ela é demais", afirma Lohaynny, que é fã de tênis.
"O resultado foi bom. Elas são a segunda melhor dupla da América. Ainda existe uma diferença muito grande para a primeira, mas estamos muito felizes", afirmou José Roberto Santini Campos, Superintendente de Gestão Esportiva da Confederação Brasileira de Badminton (CBBd).
Ainda nesta quarta-feira, a dupla masculina Daniel Paiola e Hugo Arthuso foram derrotados na final para os norte-americanos Phillip Chew e Sattawat Pongnairat, por 2 sets a 0, e ficaram com a medalha de prata.
"É um resultado positivo. No ultimo Pan foram duas medalhas, as duas de bronze. Chegar aqui com três (medalhas), fazendo duas finais, é muito bom. Saímos de cabeça erguida. O Brasil nunca tinha chegado a uma final", afirmou Daniel Paiola.
Uma prata gigantesca
Lohaynny é a mais jovem, tem 18 anos. Luana é a mais velha, tem 20. As duas integram a seleção brasileira de badminton há cinco anos. Foram convocadas para defender a equipe nacional enquanto ainda treinavam no projeto social Miratus, na comunidade da Chacrinha, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Foi lá que pegaram o gosto pelo esporte da peteca e começaram a trilhar um caminho de sucesso na vida. Hoje, já se mudaram para Campinas (SP), onde treinam no Centro de Treinamento da Confederação Brasileira e defendem o clube Fonte São Paulo.
"Se não fosse o badminton não sei o que seria da minha vida. Muitas das meninas que começaram conosco no projeto ou estão mortas, ou estão grávidas. O esporte entrou no momento certo em nossas vidas", diz Luana, que sempre que pode vai ao Rio de Janeiro com a irmã para visitar a favela onde cresceu.
A violência nas comunidades cariocas, por sinal, vitimou o pai das jovens, em 2000. Chefe do tráfico em um morro no Rio de Janeiro, ele acabou caindo em uma emboscada e foi assassinado. À época, Luana tinha seis anos e Lohaynny quatro. Por isso, sempre foram criadas pela mãe e pela avó, grandes alicerces em suas vidas até os dias de hoje. Apesar de terem tido pouco contato com o pai, ambas falam abertamente sobre a tragédia familiar, mas preferem focar em seus feitos e objetivos futuros a focar no passado.
Atualmente, elas jogam pelo Paulistano, de São Paulo. "Não importa a classe social que você vem. Não importa se você vai chegar em um lugar em que só tem riquinho. Se você se esforçar, mesmo quem não gosta de você vai te respeitar", afirmou Lohaynny.
*Atualizada às 16h49