T. Pereira leva ouro e bronze e bate recorde brasileiro de medalhas no Pan
Fabio Aleixo
Do UOL, em Toronto (CAN)
A partir desta quarta, Thiago Pereira é o brasileiro que mais vezes subiu ao pódio em Jogos Pan-Americanos. São 21 medalhas, duas a mais que Gustavo Borges, antigo recordista com 19. E a quebra da marca histórica foi em grande estilo. No mesmo dia, o novo Mr. Pan conseguiu um bronze nos 200m peito e participou do ouro nos 4x200m livre, em um dia dourado para o país na natação, com João de Lucca e Thiago Simon campeões nos 200m livre e nos 200m peito - Leonardo de Deus, nos 200m costas, e Manuella Lyrio, nos 200m livre, levaram bronze.
O feito foi celebrado pelo próprio Gustavo Borges. Em Toronto, o ex-nadador foi convidado pelo SporTV a "passar o bastão" para o sucessor, que estreou em Pans justamente na edição em que o veterano se despediu: 2003, em Santo Domingo.
"O Gustavão sabe. Estou vivendo um momento único. É uma coisa que não aconteceu da noite para o dia. Tive oportunidade de ver esse cara em 1996 ganhando medalha em Atlanta e pensava: 'Será que um dia vou estar ali representando meu país?' Tive o prazer de fazer seleção com ele em 2003. É importante não só para mim. Eu busco ser o maior medalhista da competição, não vai ser só o Thiago, vai ser o Brasil. Espero com isso estar motivando ainda mais a criançada", disse Thiago Pereira.
Agora, ele está empatado com os ginastas Juan Caviglia e Abe Grossfield, que ganharam 21 medalhas para Argentina e EUA, respectivamente. O líder é o cubano Erick Lopez, também ginasta, que soma 22 pódios, com 18 ouros. Thiago, que não sabe dizer se chegará a um quinto Pan na carreira, já tem 14 ouros, três pratas e quatro bronzes.
A frequência na competição regional, em algum momento da carreira, chegou a ser alvo de crítica a Thiago Pereira, que não conseguia repetir o desempenho em Olimpíadas. Tudo isso ficou para trás. Medalhista de prata nos 400m medley em 2012, em Londres, ele agora pode comemorar à vontade o seu sucesso mais perto de casa.
"Estou muito feliz por alcançar este recorde. Ele não foi obtido da noite para o dia. Só queria já sair daqui hoje com este ouro do revezamento, mas os Estados Unidos recorreram (veja mais abaixo) e a cerimônia ficou para amanhã. Mas foi um grande prazer poder nadar com esta equipe", afirmou o nadador de 29 anos.
"Se tem uma pessoa a quem dedico este recorde, é a minha mãe. Foi ela quem desde pequeno me incentivou e colocou na natação", completou.
A última medalha da coleção de Thiago Pereira foi conquistada em conjunto com Luiz Altemir, João de Lucca e Nicolas Oliveira, que compuseram o revezamento 4x200m livre. Depois de ter levado o ouro no 4x100m livre na última terça, o Brasil voltou a fazer bonito e não deu chances a Estados Unidos e Canadá.
Nas três primeiras passagens pela piscina, o Brasil liderou com alguma folga. Thiago Pereira, por exemplo, chegou a abrir um corpo de vantagem para os rivais. A folga só caiu quando Nicolas saltou na piscina. Talvez cansado pela participação nos 200m livre pouco antes, ele terminou o revezamento sem a mesma força e por pouco não foi alcançado pela equipe americana.
Um problema com o time dos Estados Unidos, aliás, adiou a entrega da medalha de ouro ao Brasil. A organização desclassificou a equipe americana porque um dos nadadores usou um esparadrapo nos dedos. O time entrou com recurso e, para não correr o risco de premiar alguém e ter de voltar atrás depois, a organização preferiu fazer a cerimônia somente nesta quinta, após o julgamento. A vitória do Brasil, porém, não está ameaçada pela situação inusitada.
200m peito masculino
Em uma dobradinha, Thiago Simon e Thiago Pereira venceram ouro e bronze, respectivamente, nos 200m peito. Para o novato, a medalha é inédita. Para o mais experiente, o gosto foi especial porque o terceiro lugar foi a 21ª conquista do Mr. Pan, já que o título no revezamento só viria depois. Foi esse bronze, então, que colocou o nadador à frente do colega de piscinas Gustavo Borges.
O protagonista dessa prova, no entanto, foi Thiago Simon, de 25 anos, que fez o melhor tempo da carreira com uma prova dominante, em que liderou quase de ponta a ponta. O resultado foi o recorde pan-americano, com 2min09s82.
"Ele [Thiago Pereira] é um ídolo e fico feliz de nadar ao lado dele. Estou bem acostumado. Sempre estamos competindo juntos. É um grande amigo, um fenômeno do Brasil", disse Thiago Simon, que foi ao primeiro Pan aos 25 anos de idade. Atleta do Corinthians, ele nadava medley até dois anos, quando percebeu que tinha potencial para fazer sucesso no nado peito.
200m livre masculino
Com o nono melhor tempo do ano e o recorde pan-americano, João de Lucca venceu uma disputa acirrada e levou o ouro nos 200m livre. O brasileiro se poupou no começo, acelerou nos 100m finais e conseguiu a segunda medalha do Brasil no dia.
Este é o segundo ouro do nadador, que na última terça tinha feito bonito ao ajudar o revezamento 4x100m livre. Para subir ao lugar mais alto do pódio, João de Lucca largou atrás e deixou os principais rivais desgarrarem na disputa. A estratégia se mostrou adequada, já que o argentino Federico Grabich, que dominou a prova inteira, acabou sendo ultrapassado nos metros finais e terminou com a prata - Michael Weiss, dos EUA, completou o pódio.
"Deu, consegui o fruto do resultado. Foi estudada a minha prova, vimos a melhor estratégia. Mantive o plano que foi conversado e foi ótimo. Eu estava bastante nervoso antes de entrar na água, fiz meu plano de ataque e deu certo", disse João de Lucca, em entrevista ao Sportv.
Foi a primeira conquista individual de João de Lucca em uma competição deste porte. Antes do ótimo desempenho, ele só havia amealhado medalhas em disputas de revezamento do Mundial de piscina curta de 2014, em Doha, no Qatar.
Nicolas Oliveira, o outro brasileiro na prova, chegou a brigar pelo ouro, mas fez o movimento contrário de De Lucca e caiu nos 100m finais. Com 1min47s81, ele ficou apenas com o quinto lugar.
200m livre feminino
Manuella Lyrio fez bonito e conseguiu um lugar no pódio da estrelada prova dos 200m livre feminino, que teve a norte-americana Allison Schmitt, atual campeã olímpica, como campeã. A brasileira de 25 anos fez o melhor tempo da carreira (1min58s03), quebrou o recorde sul-americano e se meteu entre as nadadoras mais veteranas para conquistar sua primeira medalha em Toronto.
É o primeiro pódio individual para a nadadora, que apesar da pouca idade já está no terceiro Pan, com duas medalhas em revezamentos na bagagem. Manuella largou da raia 5 como o segundo melhor tempo das eliminatórias, mas não começou bem. Ampla favorita, Allison Schmitt sobrou desde o início e arrastou consigo duas canadenses que ameaçavam o pódio da brasileira. Nos últimos 100m, porém, Manuella cresceu de produção, entrou na disputa e acabou levando o bronze.
"Estou muito feliz, muito satisfeita. A gente sempre quer mais. Agora tem Mundial de Kazan, quem sabe estar em uma final. Quero nadar para 1min57s, com certeza", Manuella ao Sportv, ressaltando os objetivos futuros em uma prova tão disputada que dá trabalho até para quem já é experimentada no assunto.
Campeã olímpica, Allison Schmitt foi para o Pan em busca de uma recuperação pessoal. Após o ouro em 2012, a nadadora passou por uma queda de rendimento na carreira e agora tenta se recuperar a tempo de voltar para os Jogos de 2016, no Rio.
A outra brasileira da prova foi Larissa Martins, revelação da natação do país que ganhou uma medalha com o revezamento 4x100m livre feminino na última terça. A atleta mineira, no entanto, não foi bem. Com 2min00s32, ela fez um tempo pior do que o das eliminatórias e ficou apenas na quinta colocação.
200m peito feminino
A prova mais fraca do Brasil no dia terminou com Pamela Souza na modesta oitava colocação. A disputa foi vencida pela canadense Kierra Smith, seguida de perto pela compatriota Martha McCabe.
4x200m livre
O Brasil conquistou mais uma medalha de ouro na natação no revezamento 4x200. Thiago Pereira, João de Lucca, Nicolas Oliveira, Luiz Altamir venceram com direito a novo recordo pan-americano. Os brasileiros deixaram para trás o conjunto do Canadá e Venezuela, respectivamente. Os EUA havia chegado na segunda colocação, mas foram eliminados da prova pois queimaram a largada.