Como um único rio da Bahia rendeu medalhas à canoagem no Pan

Daniel Brito

Do UOL, em Toronto (CAN)

Quis o destino que o grande nome da canoagem brasileira, com potencial para ser medalhista olímpico, viesse de uma cidade chamada "Aldeia das Canoas". Este é o significado da cidade onde nasceu Isaquias Queiroz, que subiu ao pódio no Pan de Toronto. As canoas trafegam pelo Rio de Contas, que rendeu outros dois atletas para a equipe nacional que está no Canadá.

Isaquias vem de Ubaitaba, uma junção de palavras do idioma tupi, falado por alguns dos índios que habitaram esta região da Bahia há mais de três séculos. A cidade é pequena, não tem mais que 25 mil habitantes, demora-se mais de quatro horas para ir de carro desde Salvador até lá, no sul do Estado.

Mas, o mais importante, Ubaitaba margeia o Rio de Contas. É este rio que a separa de Aurelino Leal, outra pequena cidade da região. Para ir de uma cidade a outra, os moradores usam canoas de madeira. A distância entre as duas margens é até considerável. Em alguns trechos chega a quase 200m. Foi nele que Isaquias passou maior parte de sua infância. E iniciou na canoagem em um projeto de iniciação do Ministério do Esporte, há dez anos.

"Para quem mora na minha cidade, o rio talvez seja a coisa mais importante de lá. Muita gente ganha a vida por causa dele [do rio]. Depois que iniciaram os programas sociais voltados para o esporte no rio, acabou se tornando algo importante em Ubaitaba", explicou Isaquias, após ganhar o ouro no C1 1.000m, na segunda-feira, 13, em Toronto.

Rio que une a canoagem

Quatro canoístas brasileiros que estão em Toronto pela equipe de canoagem de velocidade são da Bahia e, coincidentemente, vêm do sul do Estado. A seleção do Pan conta com 15 atletas no total. Mas, mais intrigante ainda, é o fato de que, entre os baianos, três tenham sido "formados" para a canoagem no Rio de Contas.

Além de Isaquias, seu parceiro de C2 (prova em dupla) Erlon de Souza é de Ubatã, localizada 54 quilômetros a noroeste de Ubaitaba. A dupla faturou a prata nos 1.000m C2 na segunda-feira. Já Valdenice Conceição é da paradisíaca Itacaré, em uma região conhecida como a Costa do Cacau.

A quarta baiana na equipe nacional em Toronto é Ariela Pinto, de Guaratinga, cidade ainda mais ao sul da Bahia, mas que não é banhada pelo Rio de Contas.

Em comum, Ubatã, Ubaitaba e Itacaré são banhadas pelo Rio de Contas. Trata-se de um importante  afluente para a Bahia. Ele nasce do alto da Serra da Tromba, na Chapada Diamantina, serpenteia pela região centro-sul baiana, serve como fonte de energia para a usina hidroelétrica do Funil, depois corre por Ubatã, desce mais de 50 quilômetros para separar Ubaitaba de Aurelino Leal e, após outros 50 quilômetros, deságua no Oceano Atlântico no mar de Itacaré.

"Não existem muitas opções de lazer em Ubatã e acho que nem em Ubaitaba, por isso que a canoagem faz parte da cultura das duas cidades, é extremamente importante para a gente que é de lá", contou, orgulhoso, Erlon.
 

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