Sem folga, brasileiro do rúgbi teve de seguir trabalhando da Vila do Pan
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
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William Lucas/inovafoto
Fiori é inglês e chegou à seleção após troca de cartões entre seu pai e técnicos do Brasil
A rotina de Juliano Fiori nos Jogos Pan-Americanos de Toronto foi das mais complicadas. Todos os dias em que esteve no Canadá, se dividiu entre treinos, jogos da seleção brasileira de rúgbi 7 e seu trabalho. "Eu consegui a autorização para vir para o Canadá. Mas ainda tenho algumas coisas para fazer. Estou escrevendo relatórios e revisando o trabalho da minha equipe", conta.
Juliano é um dos dois atletas estrangeiros que o Brasil importou no rúgbi. Filho de brasileiros, ele nasceu na Inglaterra, mas sempre teve uma forte ligação com o Brasil. Estudou relações internacionais por causa disso. Hoje, trabalha na Save The Children, uma organização humanitária que cuida de crianças pelo mundo. É consultor de assuntos humanitários, liderando uma equipe de pesquisadores.
"Isso é até engraçado. Eu tenho duas vidas. Em uma sou um atleta aqui na seleção. Na outra, trabalho com pesquisa e política estratégica em uma ONG internacional. E muita gente do meu trabalho não tinha nem ideia que eu era jogador de rúgbi", conta Juliana.
Os colegas de Juliano começaram a descobrir essa vida dupla por acaso. Uma foto em seu perfil do Facebook aqui, um clipe de um torneio internacional de rúgbi ali... "Aos poucos todo mundo foi descobrindo. E muitos vêm conversar comigo. Dizem que foram a tal torneio, assistiram aos jogos, e não sabiam que eu estava jogando".
O chefe, porém, sempre soube dessa jornada extra do jogador. "Eu sempre treinei cinco vezes por semana, mas não tinha impacto no trabalho. Hoje, preciso viajar muito e preciso da autorização do meu chefe. Sorte que ele adora rúgbi e está deixando", diz Juliano. "Aí, é só dar um ingresso aqui, outro ali, que fica tudo bem", brinca o jogador.
Com ou sem dedicação integral, a chegada de Juliano ao Brasil traz experiência. Ele cresceu jogando rúgbi em Londres, algo que não acontece com nenhum dos outros atletas da seleção – com exceção de Matt Gardner, que também nasceu na Inglaterra. "Há quatro anos, meu pai estava no aeroporto de São Paulo e viu uma delegação esportiva embarcando. Ficou curioso e foi conversar com as pessoas. Descobriu que era a seleção de rúgbi, contou que tinha um filho que jogava e trocou cartões. Eu recebi dois e-mails até responder que poderia defender o Brasil", lembra.
No Pan, Juliano saiu sem medalha. O Brasil, porém, pode comemorar. A equipe melhorou em relação ao Pan de Guadalajara, há quatro anos, na estreia do esporte nos Jogos.