Brasil ganha reforço profissional de rúgbi graças a anúncio de jornal
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Fotojump
Matt Gardner, inglês que chegou à seleção de rúgbi graças a um anúncio em jornal
Um dia, Matt Gardner estava lendo a seção de classificados de um jornal quando um anúncio chamou a atenção. "Procura-se jogadores de rúgbi. Necessária conexão com o Brasil". Jogador profissional de rúgbi em Manchester, na Inglaterra, e filho de uma sergipana, ele se enquadrava no perfil. "Nunca imaginei que algo assim fosse possível", admite o jogador.
O algo assim, no caso, é jogar rúgbi em uma Olimpíada e pelo Brasil. "Quando comecei a jogar, o rúgbi não era olímpico. Então, não existia exatamente esse sonho. E ainda mais pelo Brasil. Não tinha ideia que jogavam o esporte no Brasil. Entrei na internet e investiguei. Descobri que jogam desde os anos 70", conta.
Não é o único caso da seleção brasileira que está nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá. O time, que joga neste sábado, às 12h55 (de Brasília), contra a Argentina, conta também com Juliano Fiori, inglês e filho de um gaúcho. Ele não chegou por anúncios em jornais. Mas a história também é inusitada.
"Há quatro anos, meu pai estava no aeroporto de São Paulo e viu uma delegação esportiva embarcando. Ficou curioso e foi conversar com as pessoas. Descobriu que era a seleção de rúgbi, contou que tinha um filho que jogava e trocou cartões. Eu recebi dois e-mails até responder", lembra.
Ambos são ingleses, mas têm ligação com o Brasil bem diferente. Matt não fala português e veio ao Brasil apenas uma vez, quando tinha 16 anos. "Minha mãe é de Aracaju e é brasileira ao máximo. Vive desde os 16 anos na Inglaterra e ainda não perdeu o sotaque. E sempre fez questão de cozinhar comida brasileira em casa. É o trabalho dela, é chefe de cozinha, então se orgulha muito dessas raízes".
Já Juliano sempre fez questão de permanecer ligado ao país em que o pai nasceu. Visitava sempre o país para reencontrar o lado verde-amarelo da família, estudou português, fez faculdades sobre a América Latina e até entrou em uma banda, para tocar samba. "Minha irmão dançava e tocava, então eu acompanhei. Essa ligação com o Brasil sempre foi muito forte. Não queria perder. Hoje, quando meus amigos descobrem que estou jogando rúgbi pelo Brasil, todos se surpreendem".
A função da dupla na equipe nacional é essencial. Até a volta do rúgbi para os Jogos Olímpicos, o esporte era completamente profissional por aqui. A Confederação Brasileira de rúgbi montou um projeto ousado, trouxe técnicos da Nova Zelândia e da Argentina, potências da modalidade no planeta, e tem um programa de formação de atletas estruturado. Mas, com as Olimpíadas do Rio de Janeiro tão próxima, uma coisa não é possível ensinar aos jogadores brasileiros.
"Nós dois entramos com experiência. Jogo rúgbi profissional há anos, participei de clínicas com grandes técnicos ingleses e conheço o jogo desde a infância. Os brasileiros não têm isso, então eu tento passar um pouco disso para eles. Espero conseguir", diz Juliano.
O time feminino, que estreia também no sábado, às 11h49 (Brasília), contra o México, também conta com uma importada. Isadora Cerullo jogou rúgbi pela faculdade e foi avisada por sua técnica que o Brasil procurava atletas. "Ela viu os anúncios do jornal e decidiu que eu era perfeita para isso. Mas teve de insistir muito", lembra a jogadora.
Na época, ela estava fazendo o curso de pré-medicina, já trabalhava na área e se preparava para virar médica. Adiou pelo sonho olímpico. "Posso esperar um pouco para ser médica. Pelas Olimpíadas, isso não seria possível".