Como o hóquei ajudou Brasil no último ouro do futebol do Pan, há 28 anos

Fábio Aleixo e Vanderlei Lima

Do UOL, em Toronto (CAN) e São Paulo

Único país pentacampeão do mundo de futebol, o Brasil sofre quando o assunto é Olimpíada – nunca conquistou um título – ou Jogos Pan-Americanos. Ao entrar em campo em Toronto no próximo dia 12 para enfrentar o Canadá, a seleção iniciará a luta para colocar fim a um jejum que já dura 28 anos. Desde Indianápolis-87, o time nacional só acumulou vexames. Com exceção de 2003, quando ficou com a medalha de prata, não subiu ao pódio em nenhuma oportunidade. E a última medalha de ouro, ganha após vitória por 2 a 0 sobre o Chile na prorrogação, com gols de Washington e Evair, chegou na base do sofrimento.

Por causa de um boicote das equipes cariocas, o time nacional que foi aos Estados Unidos tinha apenas 13 jogadores. Nem fazer um coletivo era possível. A solução foi apelar a ajuda de atletas de outras modalidades. E jogadores de hóquei na grama de outros países toparam dar uma mãozinha para o Brasil.

"Nós não tínhamos número suficiente de jogadores para treinar e ainda havia alguns atletas machucados. Conversei com os treinadores de hóquei e perguntei se eles poderiam ser sparrings nos treinos e aceitaram nos ajudar", conta o técnico Carlos Alberto Silva.

Naquele Pan, não havia restrição de idades para os convocados – diferentemente de agora que só podem ir os menores de 22 anos. O único requisito era que os atletas não tivessem jogado a Copa do Mundo e nem as eliminatórias.

Silva chamou, entre outros, o volante Mazinho e o atacante Romário, que defendiam o Vasco, e  o lateral-direito do Flamengo, Jorginho. Mas por causa da disputa do Campeonato Carioca, os clubes apelaram à Justiça e não liberaram os atletas. A solução foi improvisar, como relembra o ex-zagueiro Ricardo Rocha, que sete anos mais tarde seria campeão mundial.

"Fomos com uma conta muito justa para o Pan. Eu mesmo tive de jogar de lateral- direito. Nós tivemos muitos problemas com os clubes brasileiros naquela época, mas o grupo era muito forte e teve grandes jogadores, como o Raí, o Ricardo Gomes, o Valdo, o Taffarel. Tínhamos uma geração já se formando", relembra o hoje comentarista da SporTV.

"Eu estava com a camisa 12 e tinha quase certeza que eu estava indo para este Pan-Americano como terceiro goleiro. Os goleiros eram o Zé Carlos, do
Flamengo, e o Régis, do Vasco. Naquela confusão muitos jogadores não viajaram. Depois, o goleiro do Atlético Mineiro, o Pereira, foi chamado. Mas antes de ele chegar, eu fazia sozinho os treinamentos. Então era uma dificuldade, um cansaço enorme", relembra o ex-goleiro Taffarel, que na época tinha 21 anos e defendia o Internacional.

Apesar dos percalços na preparação e a dificuldade existente para montar o time com o torneio andamento, a seleção brasileira fez uma grande campanha e
terminou a competição invicta.

Na estreia, fez 4 a 1 sobre o Canadá. Depois, vieram uma vitória por 3 a 1 sobre Cuba e um empate sem gols contra o Chile. Nas semifinais, uma vitória por 1 a 0 sobre o México, na prorrogação.

Na final contra o Chile, um jogo duro que só foi decidido no tempo extra e teve até briga dos chilenos com o lateral-direito Nelsinho.

"[O título] teve repercussão. Foi muito importante para nós, porque era uma geração nova, que estava iniciando seu caminho. E sempre é bom começar o trabalho com uma vitória", disse Ricardo Rocha.

O time da final -  21/8/1987
Brasil 2 x 0 Chile
Brasil:
Taffarel, Ricardo Rocha (Douglas), Geraldão, André Cruz e Nelsinho; Pita, Valdo e Edu Marangon; Careca, Evair e João Paulo (Washington). Técnico: Carlos Alberto Silva
Gols: Evair e Washington

 

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