Técnico do polo brasileiro evita falar como canadense: aqui sou brasileiro

Bruno Doro

Do UOL, em Toronto (Canadá)

  • Satiro Sodré/SSPress

"Aqui eu não sou canadense. Não estou em casa. Sou brasileiro".

Foi assim que Pat Oaten, que comandou o Canadá por anos, se apresentou após o primeiro jogo do polo aquático brasileiro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Técnico da seleção feminina verde-amarela, ele, claramente, tentava desviar o foco da conversa de um fato óbvio: ele está em casa.

"É algo que sempre digo. Estou aqui com as cores do Brasil. Defendo o Brasil agora. E falo sobre o Brasil".

O incomodo de Oaten, porém, é estratégico: um objetivo claro de seu trabalho é fazer com que as brasileiras acreditem que podem ser vencedoras não por contar com um técnico estrangeiro, mas por serem capazes disso. Sem um técnico-estrela, cada resultado vira fruto do trabalho do time, não da qualidade do comando.

"Esse time precisa aprender não só a ganhar, mas a assumir o crédito por essas vitórias. Quando as jogadoras dizem que o placar é resultado do que eu fiz, elas esquecem o que elas fizeram bem. Eu posso ter pensado no plano de jogo, mas foram elas que o cumpriram à risca. Foram elas que entraram na água, colocaram a bola na rede e bloquearam. Eu não faço nada disso", diz.

Satiro Sodre/SSPress
Pat Oaten, técnico canadense do Brasil, dá instruções durante estreia de sua equipe no Pan: objetivo é mudar a mentalidade da equipe e convencer que as atletas podem ser vencedoras (e não que as vitórias acontecem graças a um técnico estrangeiro)
Quem compara o Brasil antes de Oaten e depois dele, porém, enxerga o trabalho do treinador. É o caso da técnica do Canadá, Johanne Begin. "Conheço Pat há muitos anos. E sei o quanto ele preza pela precisão em tudo o que faz. Ele sempre encontra uma sintonia fina de seu time de acordo com cada oponente", elogia a canadense.

As atletas brasileiras assumem isso. "Ele sabe exatamente como jogamos, quais os nossos pontos fortes e fracos. E também conhece muito o Canadá. Ele fez com que a gente explorasse os pontos fracos canadenses. E deu certo. Nunca, na vida, tínhamos vencido o Canadá. Agora, vencemos aqui no começo do ano (no pré-Mundial) e agora empatamos. Não foi uma vitória, mas foi um resultado bom para o torneio", diz a brasileira Marina Canetti.

Um desses pontos fortes que Oaten conhece é o físico. Desde que assumiu, ele percebeu que as brasileiras são menores que suas rivais. "Tamanho é uma questão, mas podemos superar isso. A diferença é que as brasileiras têm uma criatividade com a bola incrível. Às vezes, eu me surpreendo com as jogadas que elas fazem", conta o técnico.

A diferença de tamanho entre brasileiras e canadenses, porém, fica evidente. Na estreia das duas equipes, um empate em 7 a 7, nesta terça-feira, em Markhan, uma cidade a 30 minutos de Toronto, a altura das jogadoras dos dois times era similar. Enquanto a média de altura brasileira é de 1,75m, as canadenses têm 1,76m. O peso, porém... Em média, o time do Canadá é seis quilos mais pesado do que o do Brasil. Em um esporte em que a luta pela conquista de posição é essencial, seis quilos fazem muita diferença. É nesse momento que o técnico ganha crédito. "É com esse trabalho de sintonia fina que (Pat) consegue, mesmo sabendo que fisicamente o Brasil é menor do que os adversários, encontrar chances de vencer", completa a técnica canadense.

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