Capoeira ajudou jovem bronze no Mundial de taekwondo em ascensão meteórica

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

Em meio às polêmicas em relação a Anderson Silva disputar ou não uma vaga na seleção brasileira de taekwondo, um garoto do Amapá foi pelas beiradas e conquistou um grande resultado no Mundial realizado no último mês de maio, na Rússia. Lutando no peso até 54 kg, o jovem de 19 anos Venilton Teixeira faturou a medalha de bronze, provando que vem em ascensão veloz rumo ao Pan e às Olimpíadas, mas ainda longe de estar satisfeito com os resultados.

Essa trajetória começou em Macapá, e teve como cenário um ambiente humilde. Em uma família numerosa, ele foi criado principalmente pela avó e foi por meio de um projeto social que virou atleta. Para quem acha que ele só é bom em chutes, Venilton mostrava um pouco mais de ginga antes de partir para o taekwondo, tendo praticado capoeira e hip hop.

"Eu sempre tive muita dificuldade, tive que trabalhar, vender coisas... Mas, com o taekwondo, as coisas melhoraram. Desde que passei a ganhar o Bolsa Atleta, melhorou bastante", disse Venilton, que integra o time de atletas militares. É 3º sargento da Marinha.

Para se manter na capital amapaense, ele fez um pouco de tudo. Trabalhou na indústria metalúrgica, em um mercado e vendeu até crochê. Mas o esporte mudou tudo isso.

"Sempre gostei de fazer esporte. Primeiro foi a capoeira, depois hip hop em um projeto social. Aí um professor abriu um projeto na academia dele, me chamou para treinar e logo comecei a viajar e me destacar. Em 2013, com 17 anos, entrei na seleção adulta como reserva, em 2014 fui para o time titular e agora em 2015 consegui a medalha no Mundial", enumerou ele.

É curioso ver o hip hop na lista de atividades do hoje medalhista olímpico. Ele conta que essa experiência foi breve, durou apenas três meses, e começou por curiosidade de ver outros garotos dançando. Mas não imagine vê-lo usando algo deste mundo nas lutas. A capoeira, por outro lado, foi benéfica.

"A capoeira ajudou muito na flexibilidade", explicou ele, que ainda pôde se familiarizar com o mundo dos chutes e aprender movimentos diferentes, que aumentaram o "cardápio" de golpes que usaria mais tarde no taekwondo.

No Mundial, Venilton só parou na semifinal, quando encarou o dono da casa Stanislav Denisov e perdeu por placar apertado, 20 a 17. Antes, ele estreou contra o lutador do Omã Aadil Al Wahaibi e venceu (10 a 4). Depois, encarou o uzbeque Sarvarbek Sheraliev (22 a 9). Nas oitavas de final, derrotou o britânico Max Cater (22 a 9). Nas quartas, bateu o irlandês Jack Woolley (21 a 7).

Mas o bronze não está bom, não. "Eu esperava mais, né? Estava na disputa de ir para final, tinha ganhado do russo na Turquia, no final do ano passado. Infelizmente me lesionei um pouco antes. Na segunda luta, com um chute, machuquei o pé", explicou.

Agora, ele tenta somar pontos e garantir sua vaga olímpica. O primeiro grande desafio é o Pan.

"Esses Jogos (Pan e Olimpíadas) são muito importantes e vou lutar pelo lugar mais alto do pódio. Preciso ficar entre os 6 do ranking para garantir a vaga olímpica, ou disputar seletivas. Mas quero já ganhar o Pan, que é fundamental, e pegar a vaga o quanto antes", disse o lutador.

Se no começo da carreira as coisas foram complicadas com falta de recursos, hoje Venilton não só tem o Bolsa Atleta e o salário da Marinha, como ainda agradece um velho patrocinador. Ele tem apoio de uma empresa de segurança privada de Macapá, que até hoje banca parte de sua trajetória.

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