Para adiar aposentadoria, veteranos do esporte treinam menos e dormem mais

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

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    Tiago Camilo: aos 33 anos, ele aprendeu que treinar mais tempo não leva, necessariamente, a um melhor desempenho. E também descobriu que dormir bem e comer direito também são formas de treinamento

    Tiago Camilo: aos 33 anos, ele aprendeu que treinar mais tempo não leva, necessariamente, a um melhor desempenho. E também descobriu que dormir bem e comer direito também são formas de treinamento

Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano que vem, quando você for torcer por um atleta que está perto de encerrar a carreira, tenha certeza: se ele segue em alta, mesmo sendo mais velho do que a maioria de seus adversários, é porque ele treina menos do que os rivais. Pode parecer contraditório. Mas não é.

Um veterano, depois de uma vida toda dedicada ao esporte, conhece o nível de desgaste de cada músculo, tendão, ligamento ou cartilagem. E sabe exatamente o que precisa fazer para chegar ao nível mais alto que pode chegar. Não passa do ponto na hora de buscar de resultados.

"Um atleta jovem ainda não teve uma exposição tão grande de frequência e intensidade de solicitação física quanto a do veterano. Logicamente, com os anos de treinamentos diários, em dois turnos, com competições cada vez mais frequentes e níveis de exigências físicas cada vez maiores, os desgastes físicos, principalmente do aparelho locomotor (músculos, tendões, ligamentos e cartilagens), aumentam de forma significativa", explica Henrique Jatobá, fisioterapeuta-chefe do Comitê Olímpico do Brasil. Com isso, o volume de treinamentos dos veteranos é bem diferente. "Os treinos são de melhor qualidade, mas com menor volume", completa Jatobá.

A chave, nesse momento da carreira, não é mais a preparação física. Mas a recuperação do corpo após cada treino. Olhe o caso de Tiago Camilo, duas vezes medalhista olímpico no judô e que tentará, no Pan, seu terceiro ouro seguido. Sua primeira medalha olímpica veio aos 17 anos, em Sydney-2000. Hoje, aos 33, busca a terceira conquista. Em 17 anos de carreira, ele aprendeu que dormir é tão importante quanto treinar.

"É normal diminuir o ritmo de treino. Você precisa de muito mais inteligência para gerir a carreira nesse ponto. Se você mantiver o mesmo ritmo, você se estoura. Como não existe a mesma velocidade de recuperação entre os treinamentos, você precisa se cuidar mais. Dormir é importante nisso. É à noite que seu corpo se recupera", ensina.

Até mesmo a alimentação entra no jogo. "À noite, eu não como alimentos crus, para não mexer na temperatura do corpo. E tento sempre comer carboidratos cinco minutos antes da proteína, para aumentar a absorção dos dois. Quanto mais facilito a digestão, menos energia meu corpo gasta com a comida. E mais tempo ele vai ter para a recuperação muscular".

O próprio programa de prevenção de lesões do COB (Comitê Olímpico do Brasil) sabe disso. Tanto que, quando o UOL Esporte procurou a entidade para falar sobre o projeto, o nome de dois quarentões foi sugerido: o velejador Robert Scheidt e o jogador de vôlei de praia Emanuel. Os dois têm 43 anos, além de múltiplas medalhas olímpicas: Scheidt subiu ao pódio cinco vezes e Emanuel, três.

"Lesões todo atleta de alto nível vai ter. Não tem jeito", admite Scheidt, que, após entrar para o programa do COB, incluiu uma série de exercícios pré-treino para reforçar musculatura e articulações. "Desde que comecei (no programa do COB), diminuíram queixas de dores na coluna, principalmente através do reforço da estabilidade muscular abdominal e dorsal. A série funciona também como um aquecimento da musculatura antes da prática esportiva, o que também é muito válido, pois você já entra aquecido e alongado nos treinos e competições", disse.

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