Técnico da seleção brasileira de polo é inimigo número 1 do Canadá no Pan

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

O dia 30 de janeiro de 2015 vai ficar sempre marcado na memória do canadense Pat Oaten. Foi nessa data que o técnico da seleção feminina do Brasil se tornou o inimigo número 1 do polo aquático do país em que nasceu.

Durante o torneio classificatório para o Mundial de Kazam, em julho, o Brasil venceu, pela primeira vez na história recente, o Canadá no polo aquático. Foi só uma vitória em três confrontos. Mas foi o bastante para abrir o olho dos canadenses para o trabalho que está sendo feito por Oaten em piscinas verde-amarelas.

"Acho que eles já esperavam por uma evolução do Brasil. Mas não tanto quanto mostramos. Ouvi muita gente dizendo 'Uau, como o Brasil evoluiu'. Virei o inimigo número do Canadá, pelo menos no polo aquático", diverte-se o técnico, que trabalha por aqui desde o primeiro semestre de 2014.

Antes, ele passou 17 anos trabalhando no polo aquático canadense. Primeiro, como jogador. Depois, como técnico. Foi campeão mundial júnior em 2003 e comandou a seleção principal entre 2004 e 2012. No período, foi vice-campeão mundial em 2009.

E o status de inimigo tem origem justamente na vitória brasileira de janeiro. Na estreia da Copa Uama, em Markham, no Canadá, ele deu mostras que a vida do time que comandou por oito anos pode não ser tão fácil quanto os canadenses esperavam no Pan-Americano de Toronto. Jogando em casa, o objetivo do Canadá era conquistar a vaga olímpica antecipada. Para isso, precisa vencer o Brasil e as atuais campeãs olímpicas dos EUA.

"Hoje, os EUA estão um patamar acima do resto do mundo. São sempre as favoritas. Mas existe um segundo patamar com sete equipes em que não existe diferença nenhuma. Um time pode ser vice-campeão mundial em um ano e terminar em oitavo colocado no campeonato seguinte. O Canadá faz parte desse segundo nível. E nós já vencemos o Canadá uma vez. Pode acontecer de novo".

Essa é a esperança de Oaten para a temporada. Começou vencendo o Canadá pela primeira vez na história e já classificou o Brasil, pela segundo ano seguido, para a Superfinal da Liga Mundial. Vai disputar o Mundial de Kazam e o Pan de Toronto para colocar o Brasil nesse segundo patamar da elite do esporte. Para isso, aposta na ginga dos brasileiros. Aquela mesma que você encontra no futebol.

"Existe muito potencial no Brasil. Existe uma criatividade que você não vê em outros países. Acho que tem a ver com o futebol. O brasileiro nasce assistindo aos jogadores fazendo maravilhas com a bola e tentam na piscina, também. Além disso, o nível de comprometimento que encontrei aqui foi absurdo", elogia.

Segundo ele, tudo o que é pedido nos treinos é cumprido pelas brasileiras. "Não imaginava que seria assim. Sou estrangeiro, chegando em um time de alto nível. No Canadá, não haveria tanta obediência", explica.

Ajuda, é claro, o fato de Pat estar aberto ao país e à cultura local. Ele mora em São Paulo com a mulher, está aprendendo a falar português e a cozinhar pratos típicos da cozinha local. "Você não pode viver em uma bolha. Se escolheu mudar de país, tem de abraçar a cultura por completo. Saio na rua, converso com o porteiro, estou aberto. E isso ajuda nos treinos, também. Normalmente, dou as instruções em inglês ou espanhol. Mas uma vez por semana, o treino é em português".

Só não peça para ele usar a nova língua para as broncas. "Aí, eu grito em inglês mesmo. Não tem jeito".

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