Voluntários trabalham mais de 12 horas por dia no Pan e reclamam de comida servida

O enorme grupo de voluntários que acompanha os Jogos Pan-Americanos está tendo que, literalmente, trabalhar dobrado. Desde o início da competição, os funcionários que aceitaram ajudar a realizar o evento em Guadalajara estão passando mais de 12 horas no trabalho, com queixas que envolvem até a comida servida pela organização.

O UOL Esporte conversou com pessoas que estão trabalhando em várias sedes do Pan no México. O clima não chega a ser de revolta ou de irritação, mas a grande maioria admite que o volume de trabalho está acima do normal, e que as condições não são as melhores.

“Eu estava morando fora do país e voltei para Guadalajara para ajudar a fazer o Pan. Só que as coisas não estão saindo como eu queria. Estou trabalhando o dia inteiro e eles só me dão essa comida ruim, e uma vez só por dia”, disse uma voluntária que trabalha no complexo aquático e não quis se identificar.

A comida em questão vem em uma bandeja plástica. Tratam-se de lanches e doces prontos, uma fruta e um suco. O “kit” é sempre o mesmo, mas o problema de ser servido muitas vezes não se repete em todas as instalações.

“A comida é bem ruim. O maior problema é comer sempre a mesma coisa de manhã, à tarde e à noite. Espero que uma hora isso mude, não aguento mais esse sanduíche e o bolinho”, disse uma voluntária instalada na sede que recebe as competições de hipismo.

A desorganização atrapalha os voluntários, que em vários momentos do dia têm de ajudar público, imprensa e até a própria organização a resolver problemas que não constavam em suas tarefas.

A falta de sinalização eficiente, por exemplo, faz com que o trabalho diário de uma voluntária seja acompanhar jornalistas que chegam ao estádio Omnilife até a área reservada para a imprensa. O percurso é repetido várias vezes ao dia e leva cerca de dez minutos de caminhada, em cada um dos “passeios”. 

A carga horária só piora a situação. Não há uma esquema de revezamento de turnos. O funcionário que abre o dia pela manhã é o mesmo que encerra as atividades à noite, criando jornadas intermináveis durante todo o Pan.

“Entramos às 8h da manhã e só podemos ir embora quando acabam as atividades das finais, que são mais ou menos às 22h. Durante à tarde não tem muito movimento e é mais tranquilo”, disse outra voluntário do complexo aquático, menos indignada com a situação. “Estou gostando de estar aqui na natação. Só vou ficar aqui no complexo aquático mesmo”, conta a jovem.

Não há um consenso sobre o que foi combinado previamente com a organização. Alguns dizem que esperavam não ultrapassar a jornada de oito horas, enquanto outros já esperavam uma carga excessiva de trabalho.

“Por enquanto tenho feito apenas oito horas por dia, como foi combinado. Eu nem posso fazer mais porque trabalho fora daqui. Mas disseram que quando a patinação artística começar, vai aumentar a carga horário e não sei ainda como vou fazer”, disse um voluntário da instalação de tiro com arco, que também vai receber outros esportes até o fim do Pan.

“Estamos trabalhando até 14 horas por dia, é muito puxado, mas nós sabíamos disso quando nos candidatamos. Alguns que fazem faculdade usarão esse período para cumprir o tempo obrigatório de serviço social. São 480 horas nas universidades particulares e 960 horas nas públicas”, disse a voluntária que se ocupa da sede do hipismo, explicando também porque tantos jovens estão envolvidos no evento.